segunda-feira, 30 de junho de 2014

Me Leva


Já que a nossa alma encontra o obstáculo da pele, que possamos voar o corpo na imensidão daquela alegria pura de uma viagem.
Nesse voo que corta oceanos e angústias e sobrevoa problemas que se tornam diminutos feito as colinas vistas de cima. Problemas que viram nuvens e se deslocam para longe, não inexistentes, mas capazes de dar uma trégua na chuva torrencial sobre as nossas cabeças.
Nesse destino que nos faz diferentes, não do que somos, mas do que queremos que os outros pensem da gente.
Pois lá fora, além de ultrapassarmos as delimitações geográficas chamadas fronteiras, deixamos para trás aquele eu reprimido por obrigações e condutas, por normas de pessoas que são manada e que devem se comportar como tal conforme o pasto que se obrigam à comer.
No momento que entramos em um avião, a mágica acontece. Não, acontece antes no desfrute dos lanches ordinários e caros do aeroporto, mas degustados como se degusta um banquete. Como se degusta o primeiro beijo, a primeira noite de amor. 
E não temos primeiros beijos para o resto da vida, mas temos a euforia de embarcar e sentir no coração o palpitar da descoberta iminente. 
De novas maneiras de acordar, de sentir, de falar, de olhar.
Até o pequenos prazeres se tornam grandes quando vestidos de mudanças.
Uma café da manhã, uma banho quente, uma corrida na rua.
Acredito que somos seres viajantes.
Acredito que já estivemos em outros tempos, lugares, dimensões e assim seguiremos até onde Deus sabe.
E por isso viajar nos desperta.
Visitar culturas diferentes nos faz sentir em casa.
Pois nossa casa já existiu de diversas formas.
Em diversos lugares.

sábado, 28 de junho de 2014

Claustrofobia de mim mesma


Se eu não escrever, morro.
Escrevo sobre tudo que observo, principalmente pessoas, e nem sempre é algo relacionado à mim, mas à uma percepção que tenho do que me cerca. Percepção certa? Errada? Pouco me importa, pois não sou psiquiatra e não fico digitando palavras para salvar vidas. O faço para salvar a minha. Quando toco uma ou outra alma que tem a água batendo no queixo, fico profundamente, magicamente feliz.
E hoje, mais do que nunca, estou muito egoísta na busca de aliviar todos os sentimentos que ficam se debatendo nessa caixola que clama por fórmulas certas em um mundo incerto.
Não estou no melhor momento da minha vida, mas como sou resiliente feito aço, encaro o precalço de cabeça erguida, sempre, sempre, sempre com fé no futuro.
Porém sou humana e apesar de eu engolir bem algumas coisas indigestas, sofro de alguns efeitos colaterais.
Um deles é um mal estar que me encontra desprevenida, assim, caminhando na rua, tomando um banho, penteando os cabelos. Algo como aqueles enjoos de ressaca que, quando a gente menos espera, nos ataca.
E ele carrega consigo uma sensação claustrofóbica única: a claustrofobia de mim mesma.
Sinto uma urgência em abandonar o meu corpo (por favor, não me considerem louca, afinal estou abrindo o meu coração, por favor!) e flutuar no meu passado e suas resoluções erradas, nas palavras que disse, não disse, nas coisas que fiz e não fiz, principalmente.
E fico feito leão em jaula. Aquela sensação de que eu deveria ter rugido mais, ter sido mais impetuosa, menos boba, mais valente, menos calma, descansado mais ao sol enquanto as leoas se cansavam, caçando na savana. Não estou falando de trabalho, mas do simples fato de se permitir ser mais selvagem.
Se permitir.
Se permitir reconhecer que sou forte, eu sei, mas também preciso de colo para as minhas dores. Mesmo elas parecendo diminutas para quem não as sente.
Que também preciso maldizer a vida de vez em quando, salgar as atitudes, pois afinal açúcar demais enjoa.
E estou aqui fazendo isso.
Ninguém posta foto no Facebook de seus infortúnios. De sua cara amassada depois de chorar, de seu bife torrado, horroroso que não deu certo. De seu cabelo medonho depois de acordar, de sua briga com os filhos. Porque ninguém quer ver coisa negativa e o ideal é que todos sejamos um grande Smile amarelo.
Mas temos as nossas mazelas, não temos?
E alguns usam a buzina do carro para aliviar, outros o ódio aos outros, alguns o recalque, o sono e a comida em excesso, as drogas.
Me deem licença.
Eu hoje usei as palavras.
E quase um litro de vinho.
Apesar da ressaca.
Amanhã é outro dia.
E tenho o resto da vida para me curar.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Alfabeto de Gerações


Certa vez, um amigo perguntou: "aonde vamos parar, Mônica?"
Fiquei olhando pra ele, a cabeça trabalhando como motor de carro quando a gente pisa no acelerador sem engatar marcha. Não chegando à lugar algum, apesar de um desgaste grande.
Aonde?
As diferenças nas gerações sempre existiram, mas agora elas tem letras.
X, Y, Z.
Na minha época de juventude eram os velhos (acima de trinta), nós (até os trinta) e os bebês (até os dez).
Hoje, tem "velho" de quase quarenta morando com os pais, adolescentes de dezoito se mudando para morar com as amigas e curtir a vida, velhote redescobrindo a própria identidade.
Se querem minha opinião, digo: uma grande confusão.
Uma grande libertinagem no Tudo Pode, também.
Pode ficar usufruindo de comida e roupa lavada muito depois dos trinta, o que era uma pouca vergonha e vagabundagem e virou coisa normal.
Pode chegar ao segundo grau e decidir virar Eco Bag que adora um malabaris desde que a cordinha seja financiada pelos coroas.
Pode sair aos cinquenta "matando" rapazolas e menininhas porque é hora de tudo, antes do nada.
Os X querem viver bem com responsabilidade, os Y viver bem e os Z só viver de prazer, pois a vida é muito difícil com responsabilidades.
Então temos os X permissivos, os Y focados em si mesmos e os Z se perguntando o que existe além deles mesmos.
E a mulherada é a que sai perdendo mais.
As mães, por aguentarem um fardo que já deveria ter sido despachado, as solteiras por verem homens que se contentam com o pouco que dê pra céva e impossibilitam a probabilidade de uma vida à dois.
Enquanto as mulheres X sonhavam com um cara que as bancassem, as Y sonham com, ao menos, um que se banque e as Z estão muito preocupadas com os drinques que vão servir na festa, faça-me o favor.
E haja Rivotril pra tanta confusão.
E onde vamos parar?
O ser humano sempre inventou novas formas de contestar a sociedade e suas amarras. Muitas fizeram as pessoas evoluírem, acordarem.
O que me mete medo é que nenhuma até hoje foi tão focada no indivíduo, no narcísico e não no coletivo.
Não evoluímos como pessoas enquanto não nos enxergarmos parte de um contexto.
E uma frase não existe sem muitas letras.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Amor não se vende


Quado estamos descobrindo o outro, cada mistério desvendado é fantástico. O tamanho das mãos, o formato do olho, como o cabelo cai na testa, como ele (ela) retira a mecha e coloca pro lado. A quantidade de pelinhos dourados nas pernas, a penugem escura que sombreia a mão de dedos fortes.
A paixão incandesce a alma e o calor que escorre pelo corpo, feito lava de erupção vulcânica, faz do sexo algo sublime, mágico, elétrico.
Por muito tempo.
Até que o tempo vem, daquele jeito que ele bem sabe, cuidar das nossas febres.
E ele é implacável e cura todas, mesmo aquelas que gostaríamos que continuassem à arder na pele.
Mas Deus é bom demais, mesmo a gente não sabendo reconhecer a bondade, pois sabe como é, o tempo Dele não é o nosso.
Então aquele tempo todo de febre vira amor. Mas entre dois que são mulher e homem, o amor ainda precisa de alimento, que não pode ser o mesmo que nutrimos os filhos, os pais, os amigos, esses afetos de longa data.
O amor ainda reclama por corpos despidos de roupas, por bocas que se beijam e mãos que se acariciam.
E é nesse exato tempo que o amor deve ser bastante cuidado.
O sexo.
E cuidar é o inverso de dar atenção desmedida, como damos à um recém nascido.
Cuidar é procurar a naturalidade dessa coisa boa e natural que está cheia de camadas de vivência e de hábitos que escondem cada pequena neurose de uma longa vida à dois.
Mais do que nunca, é a hora de não criar tempo, nem dia, nem hora, nem obrigação ou compromisso para algo que gritava na urgência do nosso passado.
É ter sensibilidade suficiente para saber que nada pode ser fingido para sempre, nem trocado, barganhado, vendido ou disfarçado.
Principalmente o amor.
Porque amor não se empresta, não se adia, não se justifica.
Amor é ou não é.
O afeto é rosa rara para esse tempo que arrefece tudo.
É não regar demais, encharcar com um regador distraído na mão enquanto olhamos a estrelas e não a flor.
Cuidar é saber trocar confidências, tão importantes quanto elogios.
Dizer como se sente, como se quer, como se imagina.
Para que esse tempo renasça todos os dias. Ou quantas vezes for necessário para resgatar e manter junto o que foi unido por um grande motivo.
E que só vai se quebrar por algo muito maior do que esse tempo todo que passou.

























domingo, 22 de junho de 2014

Tempo de Renascer


Já falei sobre a sensação de não se ter mais a metade da vida pela frente para viver.
Não existirei por mais 47 anos, não mesmo. E se existir, vou estar tão pra lá de Bagdá que nem vou saber que respiro e uso fraldas.
Chegar perto dos cinquenta, para uma mulher, é como entrar na adolescência. Os hormônios gritam em frenesi, se debatendo e perguntando que raios de tantas mudanças, peloamordedeus?
A puberdade feminina é cheia de medos, dúvidas, vontades reprimidas, raiva do mundo, fome de comer paredes. Sem sal.
Tudo começa a crescer e aparecer, seios, pernas, anseios, percepção de que se está finalmente entrando na vida real. Sem Barbies, nem fadas, nem nada que explique o monte de coisas que nem a gente sabe explicar.
Pois esse chamado climatério é um semi-inferno bem parecido.
Vemos o rosto despencar em algumas camadas de pele desobedientes (algo como os bicos dos seios nas camisetas do colégio), as vontades mudarem, as dúvidas e questionamentos sobre a vida surgirem com a velocidade de um temporal.
Voltamos a não saber o que queremos, mas temos certeza do que não queremos.
Não queremos ser infelizes no tempo que nos resta, antes que os nossos joelhos doam, as nossas costas se curvem, a nossa libido suma, os nossos cabelos fiquem mais escassos, a nossa pele se resseque e a nossa vontade de sugar a vida se interrompa.
Não precisamos mais decorar fórmulas de física, nem dar satisfação aos pais, nem termos horários para ir e voltar, muito menos precisamos fingir agrado no que nos desagrada.
Porque é agora ou nunca.
Não vai dar mais para protelar.
A revisão do texto, a correção do script (se tiver correção) tem que ser feita com carinho, pois as mudanças serão mais escassas com o tempo que urge.
Não dá mais tempo para algumas coisas, mas para muitas.
Dá tempo de finalmente se olhar quando só olhamos os outros ou enxergar os outros quando só enxergamos à si mesmas.
Dá tempo de amar de novo ou de novo amar. De ter bebês no colo, filhos dos nossos filhos. De cortar o cabelo e deixar crescer, pois ainda há crescimento enquanto se vive.
Em todos os aspectos.
Dá tempo de finalmente ter coragem.
De aceitar que se é finita.
Mas eterna enquanto a finitude dessa compreensão não bater na nossa porta.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Formiguinhas Prepotentes


Eu sou otimista e crente. Creio sempre naquele melhor que virá, na justiça, no triunfo do bem, nas lágrimas de felicidade derramadas enquanto o letreiro do filme corre, subindo na tela e assinando com louvor aquele enredo que se finaliza com a frase não dita :"Viu? Tudo acaba bem, mesmo depois de tantos braços e pernas decepadas, crânios rachados, gritos de horror".
Sou assim e pronto. Nasci para ser resiliente, e como!
Mas muitas vezes me pergunto se a tal cegonha me jogou no Planeta certo. Ou na época, pois por maior esforço que eu faça, eu simplesmente não consigo entender o meu semelhante.
Não consigo!
E a minha incompreensão não se trata só das grandes mazelas como o holocausto, as guerras, a violência, a crueldade, mas das pequenas grandes manifestações de vida como o afeto, os amores, amizades, honestidade, confiança, alegrias, retribuição, reconhecimento, que seriam tão óbvios se não fossem distorcidos por algo que não compreendo.
Algo que vai além do instinto de sobrevivência, do instinto maternal, paternal, sexual. Básico.
Alguma coisa que faz retroceder toda a grandiosidade dos descobrimentos e avanços à um âmago primitivo que ainda se alimenta de preconceitos, racismo, incongruências, incoerências.
Eu poderia estar aqui escrevendo sobre politica, futebol, elite branca, essas coisas que vendem, sabe como é.
Mas não sou paga, graças à Deus (e não tão graças assim, pois adoraria viver disso), então tenho a liberdade de escrever sobre esse tudo que é a doença humana e que acaba virando elite branca, futebol exacerbado, política em decomposição, racismo, machismo, feminismo, homofobia e tal, o fim sem cura, pois não se sabe o motivo.
Não sou superior aos meus semelhantes, caso contrário estaria pilotando alguma nave espacial e rindo de tanta  mulher fruta e homem com implante de cabelos. Ou, quem sabe, estaria batendo as minhas asas brancas na hora que algum pai de família resolvesse ir embora dirigindo, depois de um happy hour regado à Jack Daniels.
Não, estou aqui, chorando pelos cães jogados das janelas, crianças sendo molestadas, andarilhos congelando nas noites frias, palavras de ódio que me foram jogadas feito flechas, lembranças nada boas de pessoas que não posso ajudar.
E por mais que surjam as curas para as doenças, a capacidade de voos interestelares, os automóveis e casas inteligentes, ainda não teremos descoberto o principal.
Aquilo que nos prende.
Limita.
E nos faz tão racionais quanto trogloditas.
Formiguinhas metidas à besta neste espaço sideral.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Salve, salve a nossa escola.


Eu nunca soube ao certo se eram os pais lunáticos que se atraíam pelo colégio ou o colégio lunático que buscava um perfil parecido.
Mas perto, nem tão perto assim, de comemorarmos os trinta anos de formandos do Colégio Farroupilha, me sinto impelida, quase empurrada de volta à um dos períodos mais neuróticos da minha vida: àqueles 11 anos letivos.
Odeio auto comiseração, mas devo muito da minha loucura aos professores do Colégio Farroupilha. E aos meus pais que não me colocaram no Anchieta (melhor um pouco de maconha para contestar a vida, do que uma vida não contestada), onde eu poderia ser um pouco mais eu e menos o que esperavam que eu fosse.
O Farroupilha adorava monstros.
Adorava aluno competidor, mal, tendencioso, narcista, comportado beirando o nazismo.
Tive que viver uma das épocas mais rebeldes da minha vida para não sucumbir à névoa opressora e causticante que me impedia de respirar. Joguei cadeiras pela janela, usei calças furadas e remendadas, estudei pouco, falsifiquei a assinatura dos meus pais em bilhetes de atitude incorreta, colei nas provas e levei zero. 
Fiz tudo isso para não adolescer e adoecer.
Ou se matar.
Como vários colegas o fizeram. Ou tentaram.
Radicalismo?
Sim, crescer é radical e crescer sob o jugo da incompreensão e da dureza é quase trágico.
Lembro dos professores estimularem a humilhação pública de quem tirava notas baixas. Lembro de vários alunos que balançavam as suas provas com a nota dez no ar e olhavam os outros como se olha um cão com fome na rua, não se gostando de cães.
Lembro de ser constrangida por uma professora de Português que tinha sotaque alemão (vejam só) porque usei um coque no cabelo, algo que ela justificou como sendo "O Penteado Novo que Atrapalhou a Minha Concentração", apenas porque perguntei aonde havíamos parado, na leitura do texto.
Mas se esperava que em casa, finalmente, se tivesse trégua de tanta exigência burra.
Mas a maioria não tinha, pois ser filho de alemães é tão difícil quanto estudar em uma escola da mesma origem.
Então as personalidades foram se lapidando para suportar tanta exigência. Ou não se lapidaram tanto assim e ainda se perguntam aonde deixaram a sua juventude estacionada, pois está na hora de manobrar e pular fora.
Antes tarde do que nunca.
Odeio auto comiseração, mas o Colégio Farroupilha teve um ensino forte, sim senhor. Tão forte que a digestão finalmente está sendo feita.
E as bruxas, fantasmas e dedos inquisidores estão ficando para trás.
Vamos festejar. Rir de tanta miséria disfarçada de altos índices de aprovação no vestibular.
Antes tarde do que nunca.
Vamos viver.
E superar.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Nem sempre é para sempre.


Ele andava tão cansado dela.
Ela sempre rindo, mesmo do que não era tão engraçado.
A mesma camiseta com estampa de bicho, os cabelos crespos desalinhados, o pouco cuidado com as unhas.
Os dedos roçando as suas costas, sempre querendo afeto, conversas, sexo.
E ele andava tão cansado. Tinha tanto o que fazer, tanto com o que se preocupar.
E ela feito gata, se entrelaçando no seu corpo, sempre exigindo algo dele.
E agora o vazio.
Tudo que ele julgava lhe matar aos poucos era o que o salvaria da sua tristeza.
A voz, o riso, a falta de jeito com as coisas, a mão buscando a sua no meio do sono.
O espaço pequeno ocupado pelo seu corpo, aquele que lhe acolhia na imensidão de tanto desejo.
Ela sempre rindo, mesmo do que não era tão engraçado.
Ela sempre.
E agora a queria.
Para sempre.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Surdez como Alívio


Nunca pratiquei mergulho.
Tenho uma certa fobia de água, sabe-se lá porquê.
Mas entendo perfeitamente quem reencontra à si mesmo nas profundezas dos oceanos. Quem busca o silêncio, os movimentos lânguidos, a luz difusa de imagens surreais. É se esconder do tumulto de um mundo obtuso, histérico, apressado e pouco acolhedor. É voltar para o útero e seu aconchego.
Não pratico mergulho, mas anseio desesperadamente por silêncio total, de vez em quando.
Um sonho de consumo, visto que moro em uma rua que era para ser tranquila, mas acolhe todos os motoristas neuróticos que trituram os paralelepípedos na voracidade de suas rodas com a intenção de despejar as suas crias no colégio João Paulo.
Visto que moro em uma bairro cheio de cães de guarda, que acuam a  noite inteira ao menor rastejar de uma lagartixa.
Mas o sofrimento com tanto estímulo, vez ou outra, me impede de descansar a alma.
Eu preciso escutar os meus pensamentos para entendê-los.
Eu preciso de um sono pouco interrompido para poder colocar os meus pés no chão do amanhã com vontade de sobra.
E mais que tudo, preciso do silêncio que alcanço longe das pessoas com todas essas suas políticas podres, essas cruezas indigestas, essas maluquices escondidas atrás de uma boa aparência e um belo estilo de vida.
Às vezes, eu gostaria de hibernar para recuperar os radicais livres e evitar outras tantas radicalidades que vejo e vivo.
Às vezes, eu precisaria apenas ouvir a batida rítmica do meu coração, o som do meu inspirar e expirar e imaginar aquele monte de peixinhos coloridos e anêmonas que dançam, indiferentes ao aumento do dólar.
E até desejar o sol que vejo difuso lá em cima, mas que  debaixo das águas é impossível de queimar.
Sou tão neurótica como todos, se me sacudirem bastante sei que um parafuso ou outro sairá voando pelos ares, escorrego, enfio os pés pelas mãos, erro.
Mas eu preciso desse amado silêncio absoluto e etéreo até para poder me aguentar.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Posses Invisíveis


Uma das maiores riquezas que podemos ter na vida é a sanidade.
Ela não precisa vir plena, pois é esperar muito, assim como colocar uma ovelha no mato e acreditar que ela vire onça.
Mas é preciso que o termômetro que mede a loucura não ultrapasse muito aqueles graus que nos mantém dentro da normalidade.
Porque sem sanidade todo o restante nos falta e seremos incapazes de julgar o tudo que temos. Inclusive afeto, qualidades, bençãos, prazer, felicidade.
A falta de sanidade distorce o mundo. E não para melhor, infelizmente. 
O doente vê inimigos em todos os cantos, ameaças em cada ultrapassagem, sabotagem em cada gesto despretensioso.
O doente se vê feio, pobre, azarado, perseguido.
E o pior de tudo é que aquele que mais precisa resgatar a sua sanidade é aquele que mais julga a ter.
A sanidade anda de mãos dadas com a humildade e com o reconhecimento de que sempre podemos falhar.
E que não é culpa dos outros, é nossa mesmo.
O são não mastiga pensamentos obsessivos e não digere mágoas, apenas evita o que não faz bem.
O são espreme o limão em limonada sem ficar gritando que o faz.
Ele dorme bem, come bem, sorri muito, chora também, mas não faz de nenhum desses fatos o grande acontecimento do ano.
Ele não precisa dizer que é bom no sexo, no trabalho, no esporte, na vida. Ele se satisfaz em ser sem precisar mostrar para conseguir o aval dos outros.
O são vive.
O insano respira.
E ainda duvida da qualidade do ar.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Permissão para Ver a Luz


De que adianta termos flores se não permitimos que o sol as faça desabrochar?

Fazer Amor


Hoje o coração dela bateu na minha pele.
Senti de leve a pulsação, tum, tum, tum, nas minhas costas, pois ela enroscava as suas pernas nas minhas e os seus braços na minha barriga.
E respirava de leve nas minhas escápulas.
Depois de fazermos amor.
Tem algo maior nisso tudo, não tem?
Como o seu coração bater em mim depois de bater por tantas outras motivações, pessoas, amores achados, perdidos, decepções, alegrias.
Me viro, cheio desse algo maior e repouso a mão em um dos seus seios.
Ela sorri e se encaixa no vão do meu corpo.
E dormimos sonhos.
Nesse momento que é só nosso, onde construímos pontes.
Para atravessar as dificuldades do mundo.