terça-feira, 30 de abril de 2013

Adeus, verão.


Eu não deveria tanto adorar o sol, pois sou sujeita às suas mazelas como boa alemoa que sou.
Minhas manchas, meu pequeno câncer de pele -extirpado e devidamente marcado no peito - meus vincos e ruguinhas ao redor dos olhos me avisam a toda hora que esses raios que tanto adoro, que me lambem, me agradam, me aquecem, são amantes traiçoeiros, pois retiram um pouco de viço a cada encontro de nós dois.
Porém, como o amor cega, choro sempre que vejo o verão se despedir, aos poucos, da minha vida.
Amo os dias ensolarados. Gosto de ferver cada gotinha de suor que emana da minha pele em uma corrida no sol à pino. 
O calor me abraça, me aconchega, sussurra seus ventos mornos nos meus cabelos e seus aromas doces de promessas que nunca se esgotam.
É do verão a esperança, as calçadas apinhadas de cadeirinhas, chopes e sorrisos.
É dele o corpo quase despido, as penugens douradas, os pés que se descobrem descalços, os cabelos molhados, as cores reforçadas. 
A cada folhinha do outono eu me preparo para a saudade.
No inverno a minha alma hiberna. O meu corpo pede para ser passado à ferro, pois os meus ossos congelam.
Não vejo poesia na chuva, não me contento com os pés gelados e me entristeço ao presenciar o meu lindo jardim desfalecer em pétalas e folhas que murcham.
Fico mais melancólica do que sou e busco a alegria naquilo que me faz pulsar e que não deixa de ser meu verão particular.
Uma lareira.
Um fogo.
Meu amado calor.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Água


Me comovo  quando vejo alguém, sentado, sozinho, olhando para um cenário de águas.
A visão daquela silhueta, de costas, parada como se o mundo estivesse estacionado, contemplando a fluidez que acalma, agarra o meu coração com força.
Seja rio no seu ritmo que dormita, seja mar agitado que briga em ondas, resfolegando gotas.
Alguém espera encontrar respostas em um mistério maior do que que a sua própria vida.
Em cada marola, em cada onda, existe uma conversa silenciosa, perguntas feitas na alma, respostas sussurradas no vento, na quebra, na espuma que se desmancha e chia.
Acredito na bondade das almas que procuram as águas como companhia.
Quem se senta para ouvir as muitas vozes do Universo não tem planos de maldade, pois esses requerem visões mais turbulentas, conversas raivosas, atitudes violentas.
E desejo que essas pessoas  com suas faces viradas para o lado vazio de pessoas, encontrem a paz que procuram. A mão que lhes acaricie os cabelos e lhes diga que nem sempre a vida nos dá todas as respostas, mas nos presenteia com essas águas que nos recebem sempre que queremos.
Com a sua conversa que acalma.

Obrigada


E o sol aquece cada pedaço da minha pele, fazendo ela respirar. O Guaíba cristalino abriga aqueles pedaços de pano branco que deslizam pelas águas espelhadas. O meu coracão bombeia rápido para os músculos das minhas pernas trabalharem na intenção de que cada passo, cada impacto no chão seja uma dança cheia de sintonia entre eu e a vida, que brota rápida nas cenas que vejo, congeladas na retina e guardadas na alma. O pai que ensina o filho na bicicleta. O casal no skate, abraçado, rindo muito. As mãos dadas nas cadeirinhas de praia. O sorriso dos amigos, o mate selando encontros, os cabelos brilhando, a vida seguindo. E então meu encontro com Deus fica fácil e não preciso de ninguém para guiar a nossa conversa leve, simples. Ele está me dizendo que me ama, pois meus olhos podem ver tanta coisa e minha alma compreender que elas significam mais do que simples imagens. E eu agradeço o tempo inteiro por poder estar correndo. Vivendo. Enxergando.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sem Rede


Só acredita em coisas mágicas nesse picadeiro da vida quem tem um coração malabarista, uma mente que voa sem medo e uma alma que possuí a alegria e leveza do palhaço.

Fuga


Às vezes é preciso abstrair-se de si mesmo para poder encontrar aquele eu perdido na gente.

Assim


Somos diferentes. A aceitação dessas diferenças, se elas não forem tantas a ponto de termos que nos afastar, é o que nos traz a plenitude na existência, a condescendência, a compaixão, a paz. A necessidade urgente de impingir ao próximo os nossos ideais é a força motriz do ódio, dos discursos raivosos, das atitudes extremas. A convivência pacífica é arte. E os artistas são poucos.

sábado, 13 de abril de 2013

Lego



Quando se combina o ponto final vem e finaliza. 
Não tem novela, enredo, conversa, adiamento.
Os meios se tornam bobagem e os fins se aceleram na urgência de delimitar o que já era nosso.
Quando os corpos combinam, sai de perto. Não existem justificativas para aquele querer infinito que vai durar mais, pois depois vira coisa mais séria como amor.
E aquele amigo que fala o que estava na ponta da nossa língua, adivinha a necessidade do nosso coração e sorri quando o nosso corpo triste pede alegria.
Combinação.
Cada reentrância nossa tem um pedaço de fora que se encaixa.
De gente, de coisas que parecem bobas, mas são peças fundamentais no nosso Lego cheio de peças faltando.
Nunca vamos ser completos.
Mas com as pecinhas certas vamos formar uma silhueta. Um cenário agradável de se olhar, de amar. 
E quando acharmos algo perdido que combine com o que estava faltando, com o dedo tiraremos o pó da pequena brecha.
E iremos se deliciar com o todo um pouco mais completo.
Quase a combinação que tanto ansiamos, mas nunca teremos.

O que a gente quer?


O Planeta só quer viver. E a gente, quer o que?

Razão


Eu sou louca o suficiente para não levar essa vida tão a sério e sã o suficiente para limitar a minha loucura e continuar vivendo.

sábado, 6 de abril de 2013

Pela Cabeça


Eu não sei onde vou parar.
De tanto pensar sobre a vida.
Mas se a vida só tem graça quando eu penso.
Talvez eu não pare nunca de viver.
Até o meu pensamento se esquecer de respirar.

Peso


Existem coisas que se não forem colocadas para fora, contaminam a mente.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Hoje


Adoro os dias em que nada me tira do sério.
Aqueles em que cada movimento do meu peito, me faz agradecer o primeiro dia em que respirei nesse mundo.
Nesses dias os problemas não existem, porque sei que eles residem dentro de mim, assim como as soluções.
Porque o divertido é termos uma trilha com subidas e descidas, pequenos obstáculos a serem transpostos, a natureza que muda de cor. É bom sentir o suor escorrendo na testa, o gosto salgado dos respingos na boca, a rigidez dos músculos no esforço de cada passo.
Um caminho reto é mais fácil, mas é na monotonia do tédio, com os olhos fechados, que perdemos a beleza da paisagem.
E nesses dias abençoados lembro que tenho muito pela frente e tenho tantas coisas, aqui mesmo, nesse agora que amanhã será ontem.
Tenho as ondas com suas espumas brancas que parecem efervescer a minha pele. Posso encher de perfume a minha casa, ligar um incenso, enfeitá-la com flores. Comer um doce com confeitos coloridos, tomar café com os amigos, colocar o meu corpo em movimento, me encher de cremes adocicados, colorir a boca de vermelho, beijar, abraçar, sorrir.
Posso sair caminhado à esmo, como turista no meu próprio bairro, escolher distribuir vários "bom-dia" mesmo não tendo resposta, mas pelo simples prazer de tê-los dado.
Tantas coisas eu posso nesses dias em que nada me tira do sério.
Que quase consigo pegar a mão desse ser alado que me olha condescendente e dizer por mim e por tantos que amo:
Obrigado.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Palavra


A relação nunca tinha sido boa.
Nem ruim.
Apenas se arrastava em uma nulidade de dias que careciam de perguntas, interesse, sorrisos, colo, abraços, contato.
Ele não sabia direito o significado da palavra pai, pois naquele homem que era de sua mãe, via um parente distante, daqueles que recebe bem em casa e tenta achar nos cantos da sala uma intimidade que nunca existiu.
Fazia um castelo lindo nos desenhos de escola, porém aquele tio estava sempre do lado de fora.
Uma barreira sólida, construída com esmero, a vontade unilateral que separava a criança do adulto imponente, importante, com um silêncio seletivo.
E ele via outros homens não sentirem medo de beijar bochechas pequenas de outros homens e queria aquilo para ele. Sem revolta nem mágoa, apenas com saudades do que nunca existiu.
E dirigiu o carro do ano, conheceu garotas lindas e divertidas, se formou na Faculdade. 
Como fotografias em time lapse, viu a sua vida passar rápido, mas detalhada, com imagens bonitas, felizes, porém soltas, como um astronauta girando no espaço sideral.
Até aquela frase, de palavra errada, surgir na sua página de Facebook.
"Lindas as fotos, Fernando, os meninos estão cressidos e fortes. Parabéns. Pai."
Aquela palavra errada.
Logo o pai que amava a literatura, pesquisava cada dúvida no pequeno dicionário, perguntando à esposa se ela sabia o significado, com um orgulho infantil de ser o detentor de tais tesouros misteriosos.
Imaginou cada dedo retorcido pela artrose digitar aquela frase, a cadeira de couro, presente dos netos pela conclusão no curso de informática.
Seus olhos encheram-se de lágrimas.
Chegava o momento em que aquele homem lembrava de um outro homem, mas estava esquecendo de si mesmo.
Um homem que ele não conheceu filho, antes de ser pai.
E aquele sentimento que nasceu e morreu prematuro, renasceu.
De uma forma diferente.
Com mais força do que ele julgava possuir, pois agora ele não esperava receber nada, apenas dar.

terça-feira, 2 de abril de 2013

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Minha Relação Complicada


Sabe, esse nosso país é complicado.
Morando nele, me sinto como aquelas esposas que tinham os seus futuros traçados pelas tradições familiares e que caíram nas mãos erradas.
Então, morro de inveja quando vejo o "marido" das outras, tão mais evoluído,  justo, acolhedor, seguro, educado, pontual.
Me rasgo de indignação.
Tenho ataques furiosos de silêncio quando me deparo com tantas e tantas mazelas, desde as mais singelas - como essas ciclovias mal planejadas - até a precariedade da educação, saúde e todo o resto de uma lista imensa de faltas.
Porém, de repente, vejo um vídeo no You Tube onde  lixeiros lá do interior de São Paulo, dançam o "Passinho do Volante", pendurados naquela caçamba imunda, requebrando com o melhor ginga do mundo e meu coração amolece.
Minha lotação encosta para embarcar duas índias bonitas e fortes, carregando um bebê tão rechonchudo quanto um pão de milho e fico feliz pela nossa variedade de raças, culturas, nuances. E, não, elas não são estrangeiras, são nativas da nossa terra e trançam  palha em cada esquina aqui do bairro Tristeza.
Me revolto com o volume das vozes na praça de alimentação do Barra, mas já estou  de papo com a grávida que, como eu, abana e morre de rir com as caretas do menininho tímido e curioso.
E me sinto agradecida pelo "homem" que me acolhe com seu colorido invejável, seus cheiros, calor, alegria, simpatia, sua vontade de servir e ajudar.
Até ele me decepcionar.
Então, estarei pronta pra lhe odiar.
De novo.