quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Semente


Sou profundamente espiritual.
Não religiosa.
E acredito nesse ciclo de indas e vindas de pessoas que nos encantam, irritam, acompanham, no formato intitulado família, amigos, conhecidos, pendências, ligação que perdura nas trocas mais estranhas, longas ou rápidas, mas intensas, pois nos deixam marcas invisíveis no corpo, mas detalhadas na alma.
Tenho tantas pessoas que carrego no coração.
Mesmo não sendo elas que dividem comigo as doçuras e a acidez do dia a dia, mas aquelas nas quais penso quando me sinto afogar e preciso de braços menos cansados do que os meus de me carregar.
Todos esses braços já me abraçaram e empurraram em algum momento em que eles mesmos não sabiam se segurar.
Mas a gente reconhece a perenidade mesmo em uma plantinha minúscula brotada no nosso jardim.
Devo muito à todas essas plantinhas que não me foram raiz.
Foram exemplo na hora de buscar o ar.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Dentro


Eu pertenço à tudo que amo.
Mas existe um lado meu que só pertence à mim.
E é à ele que presto as minhas contas.

Grande Angular


Uma amiga me diz que ando vendo o lado escuro da vida.
A conheço há mais de duas décadas e ela deveria saber que sou alguém que faz a vida ser Muito.
Talvez seja uma boa comparação dizer que vejo a vida como se estivesse atrás de uma lente grande angular.
E talvez também eu possa dizer que não vejo a vida, a fotografo.
Cada instante, cada pessoa que passa na rua é gravada na minha retina e fica lá guardada para ser impressa nos meus pensamentos e se tornarem palavras.
Um Tatu Bola, o reflexo do sol na piscina, um idoso que não largou o cigarro, uma borboleta neon, um falcão pousado na ponta do longo cipreste.
Um abraço demorado, uma grosseria constrangedora, um olhar.
Uma mão bonita de homem, um colo bonito de mulher, o riso solto visto no último segundo antes de eu virar a curva e perder o motivo de tanta alegria.
E os meus registros são embalados pela trilha sonora das falas, dos murmúrios do mar, do vento soprando, das desilusões em forma de rispidez, das frustrações disfarçadas de raiva.
Sim, os meus olhos tem visto um pouco menos de beleza do que eu gostaria, mas eles não deixam de perceber que ainda tem muita coisa digna de guardar na memória da alma.
Não estou mais triste nem amarga.
Estou mais viva do que nunca e tão viva que fiquei exigente na forma de levar a minha vida.
Não penduro na parede aquilo que não embala os meus sonhos.
Mas vejo tudo.
E tenho colocado muitas fotografias no lixo.
E com elas a escuridão que não é minha.
Mas do momento que elas registraram

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Estou Ficando Muda



O Mundo se tornou um lugar estranho.
As pessoas, bizarras, os conceitos assustadores.
As motivações, fúteis.
Os casamentos antigos, em sua maioria, são armários vazios de sentimentos, mas recheados de valores distorcidos, onde as mulheres se enchem de álcool e calmantes e os homens sonham em pular a cerca com meninas de vinte anos.  Com muito dinheiro envolvido, a coisa fica mais feia ainda.
Os casamentos novos tem o prazo de validade curto, pois a tolerância para tudo que não seja imediato é quase nula.
 As amizades são interesseiras, a gentileza é moeda rara, os pais mantém os filhos pequenos longe e ocupados com seus muitos cursos de inglês, informática, aulas de tênis e dança, pois filho dá muito trabalho.
Filhos são feitos como se faz alguma receita nova, com diversão e irresponsabilidade.
Família  correta é composta por pessoas do mesmo sexo, programa legal é Big Brother e haja espaço para tantas compras de tudo o que não se precisa, para preencher um vazio absurdo da alma.
E fico sem palavras para um Mundo tão surdo.
Me enquadro tão pouco quando me encontro em grupos que isso me assusta.
E passei, com o tempo, a ser um pouco muda.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Sem Sede (não mais)


- Faz tempo que eu não te vejo sorrir.
- ...mas eu vivo rindo!
- Não com os olhos, não com o teu corpo que, sorrindo, me convidava para visitar o teu.
- Não entendi...
- Não entendeu com a mente ou com a alma? Ou com os dois....
- Sério, o que está acontecendo?
- Ou o que não está?
- Luca, eu estou cansada e detesto quando tu começas com essas charadas.
- A gente detestava tão pouco...e cada coisa boba era poesia, cada charada, desafio, começo de riso bobo que virava a gente fazendo amor.
- ....
- Nosso problemas eram coisas de segundo plano, pois quando se tem aquele que é tudo, o único problema é não mais tê-lo. E tudo é resolvível, pois o amor nos dá tanta força...e não tem filho pequeno, conta pendente ou injustiça que nos tire a sede do outro. E  o outro é a fonte que sacia e estanca o desespero de vida.
- Mas que papo é esse? Tu bebeu?
- Não, hoje não, por isso acho que a minha sede terminou. A nossa.
- De beber?
- Sim, um ao outro.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Fast Food


O que somos sem roupa? 
Sem engolir, respirar, digerir, absorver nada que não é nosso de verdade?
Sem aquele peso familiar que nos protege, mas também nos abafa?
Que imagem o espelho devolve de nós mesmos quando paramos de repente, sem poses, na sua frente?
O que realmente nos serve sem os subterfúgios do anestesiamento das superficialidades que são soro e só nos salvam por determinado tempo?
É possível acordar todos os dias sem elevar nas pálpebras o chumbo que os outros nos impõe.
Mesmo que doa porque, afinal, tudo dói.
Mas o jejum de tantas coisas tolas que nos suprem feito um lanche do Mac Donald's, abre espaço para o que nos dá forças.
Não para sobreviver.
Mas para existir.

Não tão enfarados, mas cheios de saúde.

Ontem


Quando o nosso presente está pleno, esquecemos das mazelas do passado.