segunda-feira, 29 de julho de 2013

Amantes sem Maquiagem


O peito aperta, o estômago se enche de borboletas alvoraçadas, na mente só existe um pensamento: estar junto.
O Mundo fica opaco quando estamos longe e vibra, explodindo em cores, quando as mãos estão entrelaçadas.
A fome vai embora, o metabolismo acelera, a pele brilha.
Isso é paixão.
Ela arrebata, emagrece, obceca e dói. Ah, como dói.
Dói porque estamos sempre na corda bamba da insegurança, com a faca no pescoço na iminência de que o telefone não toque, o compromisso se adie, o beijo seja postergado, os corpos se desgrudem.
Por isso, prefiro o amor.
O amor é a paixão adulta, civilizada, madura.
O amor já passou por toda essa fome desenfreada e não se sacia com ânsia, mas com a calma daqueles que sabem degustar os momentos sem se embriagar de emoções.
Porque o amor é sóbrio.
Ele segue por caminhos mais cheios de beleza e não voa nos trilhos de alguma Montanha Russa.
Quando amamos não precisamos mais dormir de maquiagem, sorrir sem vontade, fingir satisfação. Não somos mais um cartão de visitas, vendendo todas as qualidades e omitindo todos os defeitos.
Somos nós.
Com nosso pijama velhinho, nossa cara amassada ao acordar. 
Somos amantes sem mais mistérios, mas com a liberdade que só a intimidade traz.
E a paixão - louca, insana, voraz - cede lugar à admiração, o maior afrodisíaco que existe.
A admiração nos cega para as falhas estéticas e nos turbina a memória com os motivos de termos chegado tão longe em uma relação.
E assim como a paixão nasce e morre prematura, o amor perdura.
E se ele acabar, quase nunca voltará.
Pois ele sabe que aquele lindo caminho ficou para trás.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Para quem Acredita em Milagres


A corrida, nos horários mais mansos do dia me faz um bem enorme.
Ainda mais quando o sol aquece o meu corpo.
Olho para ele e agradeço, mesmo ele tendo deixado uma cicatriz profunda na minha pele.
Mas não sou de guardar ressentimentos.
O trajeto é feito filme mudo ou muitas vezes falado, onde as cenas passam na velocidade certa pera serem poéticas e para ficarem guardadas na retina e na alma.
O velhinho coça as costas da esposa que expõe  a pele branquinha e o sutiã antigo, ao calor do meio dia.
Os trabalhadores em prosa, descascando suas bergamotas e sorrindo para uma vida nem sempre fácil, mas com gosto de esperança.
O cão de pêlo curto que se deita colado ao peludo e o faz de coberta.
A ilusão em forma de vasos com gerânios, de cercas vivas bem aparadas, de sininhos brilhantes na porta de entrada.
Os carros descansando os seus donos, depois de tê-los trazido para o almoço em família.
A paz da vida, quando nós nos damos a chance de escutá-la.
De saboreá-la com goles pequenos, daqueles que seguramos na boca antes de fazermos eles serem parte de nós mesmos.
A corrida, nos horários mais mansos do dia me faz um bem enorme.
É quando viajo nos meus pensamentos.
Peço respostas, faço perguntas, escuto, agradeço.
Então, vejo algo pequenino e reluzente na minha perna.
Paro e olho para baixo.
Lá está ela, dourada e linda, cheia de pintinhas pretas.
Minha companhia por um quilômetro.
Entendo o significado.
Para quem acredita na sorte das Joaninhas, recebi um pequeno aviso.
Nada enorme, nada gritado.
Apenas um sinal para quem acredita em milagres.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Meus Maiores Segredos


Sou inquieta.
Vivo dos pensamentos.
E não escrevo porque gosto.
Escrevo porque amo.
Não reúno letras na intenção de me mostrar mais culta, capaz ou superior à ninguém.
Apenas expurgo da minha existência, em forma de palavras, tudo aquilo que crava fundo na minha alma e fere ou acaricia tão profundamente que precisa sair feito chuva que abranda a impetuosidade e o desespero das labaredas que me consomem.
Na escrita converso comigo.
E é uma conversa tão sincera quanto definitiva, pois depois de registrada se torna história que por mim pode ser digerida, assimilada e aceita. 
E pelos outros testemunhada.
Sou muito mais texto do que fala, pois preciso do silêncio para me encontrar comigo mesma.
Por isso, nem tudo que digo é meu de verdade, pois é só longe dos olhos que observam a minha boca contar memórias,  que me desnudo e entrego meus maiores segredos.

sábado, 20 de julho de 2013

BFF



A amizade renova, hidrata a alma, suaviza as cicatrizes do coração. 
Ampara a nossa criança interna.
Respeita as diferenças.
Fica de cara. 
Perdoa.
Faz as pazes.
Põe os sentimentos à andar de mãos dadas.
Escuta.
Fala.
Ama do jeito que sabe amar.
E doa.
Tudo que pode.
Mesmo não tendo muito, se faz gigante.
Para ver um amigo sorrir.
Porque o que importa é ter vários sorrisos pra dividir.

Homens que Dançam


Primeiro foi o sorriso.
Fácil, aberto, de olhos semicerrados e lábios rasgados.
O arrebatamento foi rápido, deslizando como água morna pelo corpo magro e pequeno dela.
Mas foi a dança que selou o desejo de eternidade entre eles, mesmo ela sabendo que mesmo o Para Sempre, em caso de amor, pode ter alguns finais imprevisíveis.
Dançaram em uma festa, mas ele dançou somente para ela.
Porque ela sabia que um homem que dança sem vergonha do próprio corpo, é um homem que está disposto à ceder ao prazer.
Um homem que dança, usa os olhos, os braços e os quadris para mostrar que, mesmo expondo uma sensualidade que é mais delas, expõe o que de mais másculo possa existir: a capacidade de se entregar.
E a capacidade de dizer sem palavras que no amor a troca voluptuosa é a chave para abrir uma das muitas portas do coração.
Um homem quando dança, expõe a feminilidade que não é o afetamento e mostra para sua parceira que pode vesti-la por momentos, para conseguir saciar uma sede que nem ela se julga capaz de estancar.
E ele dançou com os mesmos olhos semicerrados de seu sorriso.
E saíram abraçados da festa.
Para uma noite cheia de promessas.

Para ela com gosto de eternidade.
Mesmo que durasse somente mais algumas danças.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Bolinhas Coloridas


A vida era uma aventura cheia de escolhas.
Quando pequeno, as escolhas eram mais dos pais do que dele e mais apoiadas na competição acirrada da escola, onde se aprendia que boas notas garantiriam um lugar especial em um futuro longínquo.
Ele tirava excelentes notas e amava sacudir a folha de papel, recém entregue pelas mãos do professor, onde o graúdo A pintava de vermelho as bochechas de quem tinha o vermelho carimbado na prova.
Aos dezessete anos passou no vestibular de Medicina em um dos primeiros lugares. Era residente brilhante na área de cirurgia e como microcirurgião se tornou um fenômeno nos transplantes.
Não existia quase nada que ele não alcançasse, pois o prestígio lhe permitia acesso às mais belas e virtuosas mulheres e logo construiu aquela vida que imaginava para si: tão devidamente polida que reluzia, cegando os tantos olhos que ele julgava desprovidos de brilho.
O filho de 9 anos era o seu orgulho. Excelente aluno, estudava inglês e francês, tinha aulas de tênis, natação e judô. Era cuidado pelas babás mais caras e estudava na melhor escola da cidade.
A felicidade era tão fácil, tão acessível que ele sentia uma ponta de desprezo por aqueles que haviam feito escolhas que os levavam ao caminho da mediocridade.
Um dia, procurando a chave de casa no quarto do menino, descobriu algo estranho. Embaixo da cama tinham quatro potes idênticos de vidro. Dois deles estavam cheios atá a boca de bolinhas de vidro cinza, o terceiro estava já pela metade e o quarto tinha poucas bolinhas coloridas.
Intrigado, ele saiu do quarto sem as chaves, mas repleto de curiosidade.
À noite, entrou novamente no quarto do filho, que estudava, acariciou os cabelos pretos e lisos e perguntou:
"Filho, o pai estava procurando as chaves aqui no seu quarto e achou uma coisa muito diferente embaixo da sua cama."
O menino sorriu:
"É a minha coleção de felicidade?".
"Coleção de felicidade?" - indagou o pai.
Então, o menino explicou:
"É assim: cada bolinha cinza é para aquelas horas em que a minha boca sorri, pois eu estou feliz. Como quando vejo você feliz pelas minhas boas notas, quando a professora de inglês diz que sou bom aluno, quando ganho um torneio de tênis, quando a Naná diz que sou fácil de cuidar."
"Nossa, quantos momentos felizes!" - o pai disse, orgulhoso. "E as coloridas são para os momentos tristes?".
"Não, pai! As coloridas são para quando a minha boca sorri, mas os meus olhos também. São para os momentos hiper felizes como quando nós sentamos juntos na varanda para conversar, quando a mãe tem tempo de me olhar jogando, quando a minha melhor amiga tira uma nota alta na escola, quando eu sinto o cheiro do seu perfume e sei que você finalmente chegou em casa. Quando o pote das coloridas estiver lotado eu vou dar de presente pra você! Não é legal? ".
A partir deste dia, alguns conceitos mudaram na vida do médico bem sucedido.
Ele aprendeu algumas coisas que não estão nos livros.
E o pote de bolas coloridas do filho ficou completo.
E ele prometeu à si mesmo que seriam mais numerosos do que os de felicidade.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Rewind


Ok, uma nova semana vai começar. 
Estaremos todos uma semana mais velhos.
Esse tempo de maturação tem servido para encorpar a densidade da alma ou a vida tem sido apenas uma contagem de dias? 
As segundas estão comprometidas com agendas pré calculadas de rotinas?
As terças reservadas para os issos e aquilos metódicos na sucessão de passos pré estabelecidos?
Não seria bom mudar o caminho, cortar os cabelos, olhar com novos olhos o velho conhecido?
Sentar um pouco, com uma xícara de café na mão à janela e olhar uma folha que balança, um Sabiá que cavoca, uma nuvem lenta que se desloca?
E o fim de semana vai chegar voando. De novo.
E vamos nos perguntar lá adiante como tantos fins de semana passaram zunindo sem que o nosso eu, que era tão cheio de afazeres, não percebeu que essas loucas semanas não são eternas.
Acorde.
Bom dia.
É hora de ser feliz, pois hoje começa o Para Sempre.
E ele não tem a opção de rebobinar.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ansiedade


Ela se fabrica através da concepção de uma realidade imaginada no futuro.
Através de uma ideia de que os fatos, tais como se encontram, culminarão em algo, mesmo quando sabemos que a vida não é matemática. 
Então todas  aquelas sensações de encontro com a morte vem se alojar no nosso corpo em forma de taquicardia, pensamentos ruins, respiração curta, boca seca, nó na garganta. 
Por que? Por que se a vida vive nos mostrando que muda a toda hora e tem predileção por desmanchar os nossos planos?
Nos programamos para aquele jantar maravilhoso do próximo fim de semana e pronto: um dia antes estamos gripados.
Minha mãe, a cada setembro de todos os anos, se consumia em uma bola de energia negativa, se remoendo em planos  para o verão que se aproximava, espreitando uma ideia de casa cheia de genros, netas, amigas das netas, confusão, areia pela sala, comida por fazer, bagunça para organizar.
Tenho certeza que ela perdia alguns quilos nas suas fantasias de uma temporada ruidosa e cheia de trabalho.
Porém, invariavelmente, a cada verão surgia um destino diferente para alguém. E a casa? Ficava quase vazia, para surpresa e frustração dela, que havia proporcionado a diversão de milhares de radicais livres no seu corpo já maduro.
E assim somos.
Explodimos a saúde com previsões de que não vai dar tempo, não vai sobrar dinheiro, faltou ajeitar isso ou aquilo. Se temos um emprego, o medo de perdê-lo nos tira o sono . Se não temos, o medo de não conseguir algum, acaba por acinzentar uma aura naturalmente clara e, claro, atrapalhar muito na hora de se mostrar capaz para qualquer desafio que venha pela frente.
Eu sei, a vida anda difícil, um monte de assaltos e violência, mas o medo, esse vilão que em doses pequenas nos mantém vivos, quando extrapola os limites saudáveis, acaba por naufragar um barco que sequer entrou no mar.
Conheci um senhora linda aos noventa e tantos anos de idade. Fomos almoçar na sua casa em virtude de um aniversário e quando chegamos ao portão da bela casa na Vila Conceição, tocamos no interfone. "Está aberta a porta, é só entrar" - foi o que disse a voz cheia de interferência úmida.
Ao conversarmos, depois do almoço, empunhando nossas xícaras fumegantes de café, perguntamos se não era perigoso deixar a  porta do portão aberta em dias de festa. O rosto de nariz pequeno e olhos expressivos nos fitou por alguns segundos. Depois, a voz saiu calma, quase como uma prece:
"Queridos, o medo cria uma energia própria em volta de nós e atraímos exatamente o tipo de coisas ruins que essa energia ruim propaga. Eu não deixo o portão aberto nos dias de festa, eu jamais o tranco. E em todos estes anos da minha vida, o único assalto que tive foi com a casa vazia e as portas trancadas."
Eu tranco o meu portão, por via das dúvidas.
Mas o medo, quando vem se rastejando enlameado, tentar se grudar à minha mente, eu ponho para fora de casa.
E dos meus pensamentos.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Peso


Faz algum tempo que mudei, pois o peso do Mundo nos meus ombros estava fazendo eu andar mais curvada do que eu gostaria e para encostar no chão não faltava muito. Sei que existe crueldade, falcatrua, acidentes de trânsito horripilantes, roubalheira na política, maus tratos e abuso infantil, falta de leitos nos hospitais e por aí vai. Sei, pois não sou surda tampouco cega. Já doei metade das minhas coisas para pessoas carentes, já retirei mais de vinte cães das ruas, inclusive cadelas prenhes, os cuidei, encaminhei, enfim, fiz o que está ao meu alcance, gritando aos meus olhos e coração. Porém, no mais, procuro desviar os meus olhos de tanta miséria humana. Se eu tiver que virar a cabeça em direção ao sol e evitar uma nuvem o faço e sem vergonha nem remorso, pois preciso me amar para poder amar aos outros. Preciso ter força espiritual e não é vendo os japoneses cometerem as suas atrocidades contra os animais, que conseguirei ser forte. A minha vida, como a de todos, tem suas mazelas, mas procuro espremê-las até que o pequeno caldo de positividade sirva para saciar a minha sede de otimismo. Não vou ajudar mais esse Mundo perdido se eu ver cenas de sofrimento, vou apenas me entristecer e me revoltar mais. Desde criança, tentei desesperadamente me alimentar do bom. E não sou perfeita, mas eu seria muito pior do que sou.