sexta-feira, 12 de julho de 2013
Ansiedade
Ela se fabrica através da concepção de uma realidade imaginada no futuro.
Através de uma ideia de que os fatos, tais como se encontram, culminarão em algo, mesmo quando sabemos que a vida não é matemática.
Então todas aquelas sensações de encontro com a morte vem se alojar no nosso corpo em forma de taquicardia, pensamentos ruins, respiração curta, boca seca, nó na garganta.
Por que? Por que se a vida vive nos mostrando que muda a toda hora e tem predileção por desmanchar os nossos planos?
Nos programamos para aquele jantar maravilhoso do próximo fim de semana e pronto: um dia antes estamos gripados.
Minha mãe, a cada setembro de todos os anos, se consumia em uma bola de energia negativa, se remoendo em planos para o verão que se aproximava, espreitando uma ideia de casa cheia de genros, netas, amigas das netas, confusão, areia pela sala, comida por fazer, bagunça para organizar.
Tenho certeza que ela perdia alguns quilos nas suas fantasias de uma temporada ruidosa e cheia de trabalho.
Porém, invariavelmente, a cada verão surgia um destino diferente para alguém. E a casa? Ficava quase vazia, para surpresa e frustração dela, que havia proporcionado a diversão de milhares de radicais livres no seu corpo já maduro.
E assim somos.
Explodimos a saúde com previsões de que não vai dar tempo, não vai sobrar dinheiro, faltou ajeitar isso ou aquilo. Se temos um emprego, o medo de perdê-lo nos tira o sono . Se não temos, o medo de não conseguir algum, acaba por acinzentar uma aura naturalmente clara e, claro, atrapalhar muito na hora de se mostrar capaz para qualquer desafio que venha pela frente.
Eu sei, a vida anda difícil, um monte de assaltos e violência, mas o medo, esse vilão que em doses pequenas nos mantém vivos, quando extrapola os limites saudáveis, acaba por naufragar um barco que sequer entrou no mar.
Conheci um senhora linda aos noventa e tantos anos de idade. Fomos almoçar na sua casa em virtude de um aniversário e quando chegamos ao portão da bela casa na Vila Conceição, tocamos no interfone. "Está aberta a porta, é só entrar" - foi o que disse a voz cheia de interferência úmida.
Ao conversarmos, depois do almoço, empunhando nossas xícaras fumegantes de café, perguntamos se não era perigoso deixar a porta do portão aberta em dias de festa. O rosto de nariz pequeno e olhos expressivos nos fitou por alguns segundos. Depois, a voz saiu calma, quase como uma prece:
"Queridos, o medo cria uma energia própria em volta de nós e atraímos exatamente o tipo de coisas ruins que essa energia ruim propaga. Eu não deixo o portão aberto nos dias de festa, eu jamais o tranco. E em todos estes anos da minha vida, o único assalto que tive foi com a casa vazia e as portas trancadas."
Eu tranco o meu portão, por via das dúvidas.
Mas o medo, quando vem se rastejando enlameado, tentar se grudar à minha mente, eu ponho para fora de casa.
E dos meus pensamentos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário