domingo, 25 de março de 2012

Alma Rebelde

Guardo cada adolescente do mundo em um canto especial do meu coração. Hoje, sendo a velha  do meu passado, posso não compreender muito uma alma que desabrocha, mas sirvo de colo e amparo, pois sei que cada lágrima, grito, batida de porta e atitude de revolta vem encoberta com a bruma da dúvida, da insegurança, da inquietação. Viajo no tempo da minha memória e resgato o primeiro amor que me rasgou em pedaços na tentativa vã de ser eterno, mas na confusão de não mais querer um futuro. Navego na sensação passada de querer transgredir o corpo e fundir a alma ao meu amado, cada cheiro, cada imagem com a intensidade de uma explosão. Os amores, as dores, as conquistas, tudo em lente de aumento, tudo batido e misturado em um coquetel de prazer e confusão extremos. Nada brando, tudo sem medidas. Alegrias e dores eternas, idolatrias, desafetos, desavenças tão pequenas, mas tão intensas. Medo do corpo, do futuro, das descobertas, de cada passo, do mundo. Uma fome de corpo e de espírito, querendo devorar cada fragmento de vida, cada dia, cada prato, cada aventura, como se fosse a última. Guardo meu colo para esses bebês, crianças, adultos que me enchem de compaixão. Estendo minhas mãos para essa existência tão bonita, tão confusa, tão mutante. Te aceito e te admiro alma rebelde, pois essa é a tua verdade e esquecerás quando o tempo passar.

sábado, 24 de março de 2012

Você é feliz?

Então decidi contar para quem não sabe que a felicidade não é privilégio de alguns, ela entra na porta que estiver aberta. Ou melhor, no coração que estiver pronto. E ele só estará pronto quando aceitar que quando "todo mundo" diz e faz, é quando devemos justamente duvidar. O coração pronto para ser feliz deve saber algumas coisas: ser feliz não é privilégio dos magros, bonitos, perfeitos, ricos, inteligentes, capazes, por mais que todos insistam em dizer o contrário. Ter uma vida plena não é resultado de trabalho árduo, nem malhação pesada, mas pode fazer feliz quem gosta de muito trabalho e é viciado em academia. Ser feliz não é ter vida de comercial de margarina, nem corpo esbelto, nem juventude eterna, é gostar do que se tem. Não é mais feliz quem  transa todos os dias, quem compra o quer, quem manda em um monte de gente. É feliz quem não se procupa em ser chamado de vagabundo porque gosta de acordar tarde. É feliz quem assume que filho, às vezes, enche o saco e não tem vergonha de se sentir aliviado por ficar longe deles, de vez em quando. É esse o ponto. Aceitar a singularidade e não tentar se encaixar em qualquer tipo de padrão, pois a comparação é a inimiga número um da felicidade. Sempre seremos mais feios, mais burros, mais pobres que alguém. E sempre estamos nos preocupando demais com os outros. O Natal do fulano não foi melhor porque a decoração natalina dele era mais bonita, ele apenas tinha mais enfeites que nós e dai? Fique feliz com a sua mini arvorezinha, encha ela de luzinhas e pense: "puxa será tão fácil desmanchar". Abra o coração para a vida, respeite suas limitações sem se tornar limitado, receba com amor o que Deus tem lhe dado, encare os problemas como problemas não como dramas. Durma cedo se assim lhe convier, assuma o que você realmente é e gosta de ser e não o que os outros esperam que você seja, pois uma grande parte das pessoas têm uma imagem sua totalmente diferente da que você imagina e a outra parte nem se importa. Tudo isso já foi dito? Ok, não custa relembrar.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Tempo de Colheita

Eu fui jovem. Sou hoje madura e serei idosa, se eu viver até lá. Por mais longínquo que possa parecer, me curvarei com o peso da vida, verei meus cabelos rarearem e enbraquecerem e meus olhos se tornarem opacos e cinzentos. Não sou pessoa de pensar no futuro, mas hoje pensei. Pensei nos velhos que envelhecem sozinhos, imersos em mágoas, reclamações e falta de paz. A velhice deve ser o momento da colheita, onde cada sementinha de amor, amizade e compreensão nos serão devolvidas árvores frondosas por aqueles que sempre estiveram ao nosso lado. Quando me dói assistir à idosos abandonados por filhos, esquecidos por amigos, penso no que sou, o que faço, como amo, compreendo, respeito, sorrio, ajo. Penso na relação que existe entre ter sido bom na maturidade e não rejeitado na senilidade e se essa relação realmente existe. Será que o fato de eu ter sido exigente, dura, severa, crítica, má, me tornará uma velhinha solitária? Tenho exemplos de que sim. Pessoas que se importaram mais com a arrumação da casa do que com a casa cheia de gente e bagunça plantaram uma Casa Vazia Arrumada para seus futuros. Pessoas que trocaram a convivência com os filhos, mesmo que rara, mas intensa, pelo prazer pessoal, terão a o prazer da própria companhia pelo resto de suas vidas. Quem achou trabalhoso manter amizades, casamentos, relações, entenderá que a solidão não dá trabalho, mas também não dá prazer. Hoje pensei. Posso ter sido louca, santa, regrada, má, boa, difícil, tranquila. Posso ter sido jovem, porém sou madura e vou envelhecer. Estarei eu, cercada dos que amo, sendo cuidada por quem cuidei? Estarei recebendo visitas nulas ou esporádicas, sentada em fente à  TV de uma ala geriátrica, esperando a morte chegar? Creio que onde e como eu estiver, a única oisa que não mais me ajudará é olhar para trás, pois será tempo de colher.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Devoradora de Almas



Ela dilacera, mas de modo silencioso. Às vezes em doses pequenas, porém contínuas, faz nosso pensamento correr para um abismo sem saída e vagar por terrenos escuros. A culpa. Esse sentimento avassalador que corrói nossa alma aos poucos, subtraindo as alegrias de viver. Hoje, parece que já nascemos com nossa dose de culpa acoplada à coluna vertebral, impedindo-nos de seguirmos vivendo levemente. Em contrapartida à descomunal falta de deveres para com o próximo, temos o sentimento de estarmos sempre fazendo algo proibido. Não podemos mais comer, pois mata e engorda e como não nascemos coelhos para gostar de tanta coisa sem gosto, vivemos culpados. Se tomarmos sol, iremos envelhecer, adoecer, a não ser que, nas férias, coloquemos um despertador para fugirmos dos raios ultra violeta. Culpas pequenas essas perto das que tratam de nos acordar no meio da noite para pensar que estamos com cobertas quando a maioria não tem cama. Compramos, bebemos, saímos de férias, transamos, dormimos, brigamos e nos culpamos. Seria tão mais fácil viver intensamente, rindo das pobres almas culpadas que caminham sobrecarregadas pela Terra. Seria fácil, assim como  é, para muita gente.Porém, a culpa é a companheira de viagem dos justos e, como humanos, estamos sempre errando. É a bagagem de mão pesada de quem tem consciência, moral e caráter. De quem quer o melhor para si e para o próximo. Por isso me compadeço e admiro os culpados, pois ninguém espera que se acerte sempre. O que Ele espera de nós é que no limite de nossa humanidade possamos ser humildes na hora de falhar e a culpa já traz com ela o perdão embutido.

domingo, 11 de março de 2012

Te Peço Pela Manhã

Fui deitar e conversei Contigo. Te agradeci por ter-me tornado invísivel para aquele que me quer o mal. Te contei como o foi o meu dia e Te mostrei que, mesmo meu corpo errando o caminho, Tu me guias pelo coração. Sorri Contigo lembrando do sorriso das minhas filhas que tanto me enchem de amor e Te pedi que libere o Teu exército de Anjos para abraçá-las nas adversidades e protegê-las no perigo. Agradeci muito mais do que pedi, pois cada pedacinho do meu jardim me faz lembrar Tua bondade, cada farfalhar das árvores que me cercam e revoar dos pássaros no céu me aproximam de Ti em Espírito. Cada pequeno gesto de bondade que presencio, escuto Teu sussuro dizendo que tudo pode dar certo. Agradeci muito mais do que pedi, pois encontrei o amor na minha vida e, acima de tudo, fui capaz de reconhecê-lo, pois muitos o deixam partir.Consegui me reerguer pelas Tuas mãos milhares de vezes, quando estive caída, sem forças. Olho para trás e vejo que cada momento da minha vida foi escrito para eu poder me tornar o que sou. Te agradeço muito mais do que peço e pela manhã o meu pedido é a mesma conversa que temos ao me deitar.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Ímpar

Adoro as diferenças. Como mulher, cada pedaço de mim que se distingue e por isso se torna só meu, único. Como mãe, me encho de amor quando vejo nas minhas filhas a resolução de se tornarem singulares com suas teorias, muitas vezes, diferentes das minhas. Como pessoa, posso mergulhar no meu próprio oceano de pensamentos e trazê-los a tona somente quando me convir. Como amiga, para ser complementada, ensinada, adicionada. Como esposa, para poder encaixar em mim, peças do outro que me faltam, para poder exercitar o meu feminino tão cheio de necessidades primais que não me envergonho de sentir, assim como não me envergonho de admirar a pessoa ímpar que está ao meu lado. Preciso da diferença para poder ajustar a minha visão da vida e admiro a igualdade quando a mesma é aliada da justiça.