terça-feira, 31 de julho de 2012

Nós


Temos a nossa história. Não posso dizer que é para sempre, que é imaculada, perfeita, mas é nossa. Entalhamos cada marca no que construímos, criamos cada fissura, desenho, detalhe. Nos erguemos juntos, nos desfazendo, reconstruindo, consertando. Mergulhamos em um outro mundo - um mundo diferente do que o de apenas um. Somos dois caminhos que seguem o mesmo destino, enquanto se pertencem e se completam. A vida poderia ser outra narrativa, outras fotografias. Ela pode mudar de curso, modificar certos sonhos, certos planos. Só que uma história é uma história e ela jamais poderá ser reescrita, reinventada, esquecida. Apagada.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Carros 3


Não resisti a mais um bilhão de pedidos.

FIAT DOBLÒ: Cara trabalhador, está sempre correndo para cumprir prazos e passa as informações do trabalho através de pinturas ou adesivos na lataria. Se não é trabalhador, tem tendência a ter uma personalidade quadradinha igual à sua aparência - frequenta sempre os mesmos restaurantes, segue os mesmos roteiros de viagens. Tem familia numerosa e gosta de animais.
RENAULT DUSTER: Quer um lugar ao sol no mundo do glamour, tentando ser igual aos amigos poderosos, ricos e grandes. Seu modo de circular combina com sua aparência jovem e destemida. Conseguiu ser alguém na vida, mas sabe que não nasceu para ostentar.
C3: Geralmente mulher, o C3 é daquelas que pisa fundo em linha reta e fica desnorteada quando é mais exigida em trafego lento. É bonita, arrendondada, feminina e consegue superar a maioria das colegas no quesito potência, por isso, é meio exibida e faz um pouco de bobagem.
BRASILIA: Vai com Deus.
VECTRA: Esse já foi garanhão e ainda acha que é. Coroa malandrinho, disputa território com os caras mais descolados e esportivos, faz arranques arrojados, corre, ultrapassa. Deve tomar Viagra.
FIAT IDEA: Tem os filhos pequenos e por isso perdeu a capacidade de trafegar - enquanto estava de licença maternidade. É professora, dona de casa, pequena empresária. Tem boa aparência, mas é meio esquisitinha.
SIENA: Deixou a vida de automóvel e virou táxi e táxi nós sabemos que está na mesma categoria dos ônibus e lotações, ou seja, pessoas recém saídas do presídio, manicômio ou  prestes a entrar em algum.
KOMBI: Pode ser a antiga, a Safari, a último tipo, Kombi é Kombi, o terror do trânsito, a "persona non grata" dos automóveis, a que atrapalha, amarra, impede a visibilidade. Antipatizada por todos, segue sua vidinha de ermitã, circulando, circulando e nunca frequentando bares, nem shoppings, nem hotéis, nem restaurantes. Rejeitada e infeliz.
MINI COOPER: Ah, esse estrangeiro, com sotaque britânico veio para arrasar. Geralmente jovem, tem ótimo poder aquisitivo, é lindo de morrer e ainda trafega bem. O Jude Law de rodas.

Continuo aberta à sugestões e discussões.

domingo, 29 de julho de 2012

Liberdade


Muitos mais podem amar o que, hoje, não amo. O que, para mim, perdeu o valor, pode ser jóia rara para tantos outros que existem. Tudo que julgo superficial, tolo, desnecessário, talvez seja o ponto final de alguma história, seja a razão, a glória de alguém. Porque cheguei, finalmente, ao lugar onde o relativo mora. Onde as verdades não são mais absolutas, o real, o mensurável se perderam no caminho das experiências. Sou um acerto que pode ser erro e um erro que pode vir a ser a minha salvação e júbilo. Aprendi com as pedras, que mudar de posição não as faz menos densas, menos firmes e sólidas, apenas mais flexíveis às instabilidades do tempo. Posso me arrepender profundamente de um gesto, repeti-lo e me arrepender novamente, pois tenho o direito de mudar - de idéia, de gostos, de necessidades, de ambições, de sonhos. Não sou mais parte do bando, da manada e não faço mais do outro, meu espelho. Sou Metade de Uma Vida e quero que o resto valha a pena. Porque não quero mais ser criança com medo do dedo em riste, nem jovem que teme não ser aceito por tantos. Quero aceitar e ir dormir com  a pessoa que, apesar de tudo, me enche de satisfação e que, mesmo não sendo o que todos esperam, é aquela que eu escolhi ser.

Censura

A censura constante é uma forma potente de desestruturar emocionalmente alguém. Se, em nossa lista de atitudes a serem censuradas, escolhermos duas de dez, estaremos preservando nossos relacionamentos.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Carros 2


Continuando (depois de milhares de pedidos irrecusáveis) a "personalização" dos carros.

FORD KA: O baixinho metido a besta. Valente, disputa território com gente grande e não sai perdendo. Costura, zune, estica as marchas e quase explode o motor, mas não se faz de pouca coisa.
S10: Engana, passando por Trabalhador Boa Gente, mas é mal educado, ocupa muito espaço, queima combustível e vive sujo. Não é confiável.
HONDA FIT: Exala juventude, trafega bem, tem estima boa, é simpático e bem humorado. Não quer confusão com ninguém, fica ne dele. O bem resolvido da galera.
i30: Patricinha ou Mauricinho, sinônimo de status jovem. Chega no trânsito, assim, "cool", copinho na mão e mostrando que tem estilo. Muitas vezes, agressivo.
CORSA: Não gosta de circular, mas é obrigado, por isso não sabe nem onde está. Vai para lá, pra cá, não usa pisca, faz bobagem. Deveria ser bicicleta, mas é carro.
PICANTO: Tanto o velho quanto o novo, são as Lolitas do trânsito. Bonitinhos(as), boa paz, o negócio deles é ser feliz, desfilando alegria nas suas cores divertidas.O mais velho já perdeu um pouco dos reflexos, mas ainda mantém certo viço.
ECOSPORT: Que pessoa eclética, essa Ecosport. Pode ser dona de casa, médica, aposentado, arquiteto. Um carro básico, charmoso, que fala o que pensa através dos desenhos do seu estepe. Tradicional, mas descolado, clássico, mas moderno. Se mantém fiel aos seus princípios e trafega direitinho, sem ser muito competitivo.
NISSAN MARCH: Esse é novo na turma. É jovem, mas já existe a versão "coroa que gosta de coisa de guri" circulando por aí. É valente - como o amigo KA - mas tem mais potência e, sabendo disso, não precisa se exibir tanto. Charmosinho, gostaria de ser o Tiida, mas tudo bem, ele aceita ser o que é. Também é alegre como o Picanto e eles até poderiam ser amigos, mas possuem uma certa competitividade.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A Doença do Mundo


Recentemente, uma leitora estreante, viu sua primeira obra de ficção tornar-se Best-seller. O livro está atravessando o mundo e conquistando leitores de todas as línguas e credos. A história? Uma jovem virgem de 21 anos se apaixona por um milionário pervertido, quase trintão, e se debate entre aceitar as condições impostas pelo moço, para dar cotinuidade à relação, ou pular fora. As condições? Ser sua escrava sexual em uma relação sadomasoquista, com direito à chibatadas, algemas, mordaça, dentre outras modalidades - já que o magnata só aceita esta forma de amar. A obra pornô pop está sendo considerada um fenomêno e a autora, uma revelação literária.
Isso me entristece e assusta. Tento entender como um tema tão deprimente chega ao sucesso e a única conclusão que me permito aceitar é de que o mundo está doente, ou melhor, as pessoas estão doentes. Porque o mundo continua lindo, a lua mantém seu encanto, enchendo a noite de luz, as estações continuam nos presenteando, cada qual com suas dádivas. As flores mantém seu colorido, os golfinhos aindas surfam as ondas, o mar ainda desliza e banha a areia de espuma. São tantas e tantas imagens para se falar, tantas histórias de superação, de força, de beleza para se contar. Ainda resta tanto amor para ser recitado, tanta paixão pera ser cantada, tanta alegria para ser explorada. A maioria das pessoas tem vícios, segredos, culpas, mas estes, são elementos para serem elaborados dentro de nós, fazendo dos mesmos, pausas nos degraus que subimos - pausa para podermos refletir, aprender, consertar, melhorar. O pior de cada um de nós não deveria ser considerado arte, nem entreterimento, muito menos fenômeno, mas realidades dignas de aprimoramento, de conserto, de superação.
Não julgo quem gosta disso ou daquilo e cada um sabe o que faz dentro do seu próprio quarto, mas existe uma longa distância entre fugir da rotina sexual e banalizar, valorizar e promover o desatino. Quando a narração de uma fraqueza (ela por se submeter e ele por só saber amar assim) vira um sucesso, algo está errado.
O mundo, em toda a sua grandiosidade, merece pessoas que deixem legados, como Beethoven, Einstein, Thomas Edison. Merece escritores, pintores e escultores que busquem, através de suas obras, resgatar algo de bom dentro de nós ou nos fazer refletir, mudar. As pessoas, mais do que nunca, precisam se aproximar de todos os valores que elas perderam pelo caminho. O sadomasoquismo sempre existiu, assim como desvios mais graves, como a pedofilia. O problema é quando eles saem da condição de uma triste realidade e viram sucesso literário. O mundo anda doente. Espero que tenha cura.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Dor


Os pensamentos rasgam como navalha.
Seria mais fácil ser carne.
Do que alma dilacerada.

domingo, 22 de julho de 2012

Eu Amo o Fim de Semana


Nesse último ano - quando me encontro na situação de desemprego - meus finais de semana tem sido, digamos, diferentes. No decorrer da semana, meu local de "trabalho" é o mesmo do de descanso - minha casa. Portanto, enquanto a maioria das pessoas está ansiando pela sexta feira para poder, no aconchego do lar, descansar, estou louca para mudar de ares. É quando tudo começa. Já na sexta, fico sabendo que tenho uma série de CNNS  (Compromissos Noturnos Não Satisfatórios) a cumprir, ou seja, levar, buscar, acordar e levantar - de madrugada - na incessante vida noturna das minhas filhas. Pelo menos, o outro dia é Sábado e posso dormir até tarde. Porém, o "até tarde" perdura até o momento em que aquele vizinho madrugador resolve sair com o seu cão mais madrugador ainda para dar uma voltinha em meio à portões recheados de latidos histéricos. Hora de acordar. O dia promete. Vamos para o "local de trabalho" mais usado da casa - cozinha. E de lá, saio pouco, alguns breves intervalos entre uma refeição e outra. Ajuda? Ah não, eu tenho muita energia sobrando, pois não trabalho fora. O som ambiente da casa é estimulante - corrida de carro, moto ou jogo de futebol na TV.
Próxima atração: Supermercado!
E chega a noite de Sábado, dia de diversão, isso se for divertido morrer de preocupação com mais uma saída das crias para as incertezas da noite. Uma jantinha fora poderia vir a calhar, mas o frio trata de congelar toda a pretensa animação e o melhor mesmo é ler na cama, intercalando com uma boa oração, pedindo aos jovens, proteção.
Amanhece o Domingo cheio de automobilismo e narradores gritões. Melhor dar uma boa corrida para animar (o problema é se lembrar de voltar). Na volta, o ânimo está novo em folha para encarar a cozinha - e hoje, são só doze copos e não vinte e dois. À tarde, a visitinha à sogra é o Grande Momento, onde é possível respirar um arzinho novo, circular neste nosso trânsito tão agradável de Domingo e poder mudar de cozinha. Mas, ao menos, nesta eu fico sentada.
Pronto. Chega  a noite e suas promessas tentadoras - Faustão, Gugu, Fantástico, Teledomingo, difícil escolher qual bomba maior.
E acabou-se o fim de semana.
O mais engraçado é que não gosto da segunda feira e anseio pela chegada da sexta. Devo ter tido muitos finais de semana encantadores na minha vida. E uma boa memória seletiva.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Carros


Quando estou dirigindo, tenho o péssimo hábito de, pela prática, "personalizar" certos carros:

FOX - adolescente, assustado, lento, habilidades de trafegar reduzidas. Recém tirou sua licença para circular. Tem uma tendência a feminilidade.
LOGAN - O caretão, CDF, tipo professor de Física. Não sai do lado esquerdo nem que empurrem com uma empilhadeira.
FIESTA - Geralmente um carrinho agradável, anda bem, respeita os outros, mantém a paz no trânsito. Pode fazer bobagens, mas é raro.
AUDI - Quanta malandragem. Vem cantando pneus, costurando, com suas luzinhas LED acesas, mostrando sexualidade. O macho do trânsito, o poderoso.
TUCSON - Esse é um carro com estima elevada. As pistas, geralmente, são todas dele, sem delimitações. Ele não trafega, desfila. Faz um monte de bobagem e pede aplauso.
C4 - Estima boa, mas um pouco mais metido do que poderia ser. Trafega bem, gosta de mostrar poder com ultrapassagens e ostenta o tamanho que tem.
HONDA CIVIC - Perto da aposentadoria, mas sem perder o charme. Fica na dele, mas os reflexos já estão indo por água baixo, então é bom tomar cuidado.
NOVO UNO - Novo tudo, até a capacidade de se orientar.
PALIO WEEKEND - O descolado, gurizão, surfista. É bom dividir a pista com ele. É ágil e não incomoda.
FUSQUINHA - Que dó. Vai, querido, pode fazer bobagem que a gente respeita, pois és ícone, saudosismo, fofura.
GOL - Trabalhador, bom ouvinte, ligado no que acontece ao redor. Como procriou muito, alguns não seguem o padrão.

Perdoem-me se ofendi alguém, mas estou aberta à discussões.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Longe

A menina que retornou do exterior, de uma temporada de estudos, passa pela frente da minha casa, sorrindo. Eu penso: essa vai longe. Mas como o meu pensar é inquieto, já tratei de levá-lo para outro caminho - ir longe, aonde? O que é, exatamente, ir longe? Pensei nos pais dela, com profissões normais, vida normal, familia feliz, dinheiro para poder mandar os filhos estudar fora e para poder fazê-los "ir longe". Eles pensam que transgediram a forma miserável de tantos viveres e chegaram lá ou lhes passa pela cabeça que poderiam ter ido além? Até aonde queremos ir, para podermos nos considerar pessoas que alcançaram este "longe" tão relativo? Se temos uma familia linda, queremos uma profissão, se temos uma carreira, queremos bebês rechonchudos e desdentados, se temos uma casa, queremos uma maior, se temos dinheiro, queremos um amor. Queremos escalar montanhas, ser campeões, doutores, mestres, pais exemplares, idosos com saúde, mulheres que aparentam menos idade, homens com virilidade eterna, ter carros do ano, sucesso, prestígio, amizades verdadeiras, compreensão, justiça -ufa- paz. Já vi pessoas resignadas e felizes com a própria vida, satisfeitas e plenas, mesmo com o pouco que atingiram, mas para elas, muito e suficiente. Ouvi essas pessoas serem chamadas de medíocres pelos outros, acomodadas, preguiçosas.
Tenho uma lista, nada longa, de coisas que gostaria de ter feito ou de vir a fazer para me considerar uma pessoa, digamos, mais realizada. Não falo de sonhos, pois estes devem ficar para sempre resguardados no nosso coração, nos impulsionamdo vida afora. Falo de pequenas realizações que complementariam a minha felicidade e me levariam um pouco mais adiante. O problema será eu não reconhecer o quão longe cheguei e, novamente, sair a procura de algo que nem eu mesma sei o que é.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Amor Elástico

Tenho tantos planos para nós. Não tenho nenhum. Em um simples gesto tu te tornas tudo, tu te tornas nada. Quero passar o resto da minha vida ao teu lado. De ti, eu me afasto. Nossas mãos dadas me preenchem, me completam, me solucionam. Rejeito o teu toque e o teu calor. Cada sorriso teu faz meu coração inundar-se de paz. Teus lábios me dizem tanta coisa, constroem tanta alegria, tristeza, esperança, decepção. Sou tua, não sou de ninguém. Acredito em nós para depois, desacreditar. E vivemos assim, essa relação que se contraí e se expande, que estica ao máximo, mas não se rompe. Esse Amor Elástico.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Fantasia

Além da imensa fé que tenho, minha vida foi marcada pela fantasia. Fui criança que sonhava colorido e surreal, tinha no meu próprio mundo, um refúgio secreto. Quando as coisas ficavam tristes, minha imaginação tratava de criar aquela mão que se estenderia, suave e convidativa, me resgatando de uma realidade que eu não queria enxergar. A mão era de mãe, de pai, de irmã, daqueles que, naquele momento da minha existência, poderiam ser os salvadores em uma vida - muitas vezes hostil - de escola, colegas, professores, exigências, disciplina rígida. Passei de menina a mulher, mas dentro de mim, ainda se esconde a fantasia secreta de poder ser salva da bruxa malvada que pode vir na forma de injustiça, de solidão, de desamparo, de incompreensão. A criança que vive em mim é uma criança com esperança de que tudo pode dar certo, afinal, pois as mãos ocultas estão estendidas, aguardando o momento de me erguer do chão. O adulto que sou, sabe que cada um desses heróis salvadores mora dentro de mim e que, no momento que eu estiver sendo erguida, vou reconhecer a mim mesma, segurando as minhas mãos.

sábado, 14 de julho de 2012

Amanhã

Costumo me esquecer de lembrar tanta coisa. A vida anda tão agitada, eu tenho tantas coisas para fazer, tantas contas a pagar, compromissos a cumprir que ando me esquecendo de lembrar que preciso te dizer muito.Tenho deixado para depois, pois sei que existe o depois e sempre tenho o amanhã . As contas vencem e os juros são altos, os dez minutos de atraso no trabalho me custam tanto, até porque sei que tu estás aqui, na mesma cidade, no mesmo endereço, na mesma vida e posso, facilmente, sentar contigo e conversar. Sabe, eu pensei muito em ti hoje, quando lembrei de coisas que não costumo esquecer, como quando a gente dividiu um sorriso. Lembrei das vezes que nos doamos felicidade e das vezes que me orgulhei de fazer parte da tua vida. Nessa hora, tive vontade de te chamar para te dizer o quanto a tua existência faz diferença, mesmo quando nossas divergências nos afastam tanto. Mas ainda tenho tempo e costumo me esquecer de lembrar que não sou dona do tempo do mundo. Por isso, de noite, quando minha alma fica pronta para viajar através dos meus sonhos, quando, por estar entregue e vulnerável pela consciência de que sou apenas um corpo que se cansa, penso em ti. Formulo na minha mente todas as coisas bonitas que vou te dizer, todas as palavras que vou usar como bandeira de trégua, todos os argumentos e porquês que justificarão o meu comportamento, o nosso. Mas eu costumo me esquecer de lembrar tanta coisa. Eu ainda tenho o amanhã. Espero que não seja tarde.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Gratidão

Eu quero te agradecer. Tu, que vê em mim coisas que nem eu sou capaz de enxergar. Que me abraça de longe, quando diz se encontrar no que escrevo, pois escrevo para ti. Cada palavra que se faz no meu cérebro, faz tu entenderes o que se passa na minha alma e, te digo, não quero que todos entendam, quero que tu entendas. São para ti as reações do meu corpo que chora, ri e se entristece, conforme faço dos meus sentimentos um texto. É para ti a nudez que me expõe quando torno legíveis os percalços da minha vida. É tão tua quanto minha a maneira como vejo o mundo, a alegria, a melancolia, a esperança. Eu quero te agradecer. Tu, que faz eu me conhecer melhor, me devolvendo como reflexo, a imagem do que te digo. Sou um emaranhado de sentimentos, pensamentos e emoções e só sou salva quando faço deles, palavras. Só sou salva por ti, que me  reconhece como página e me guarda como lembrança.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Noite

Guarda a noite, Deus, dos jovens e seus sorrisos. Dos que não se cobrem, dos que vestem pouco. Traz luz para a escuridão de certos sonhos, abre os corações fechados para Ti, pois esses sofrem. Guarda a noite, Deus, dos que nela transitam e nela trabalham. Faz da noite, descanso, colo, conforto. Eu te peço.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Salvação



"Mãe, eu te amo...eu adoro dizer isso e nunca quero deixar de dizer...a mana não te diz isso?"
"Dizia...dizia muito, igual a ti, quando tinha a tua idade."
"Mas eu nunca quero deixar de ter vontade de te dizer."


Fico miúda, quase ínfima perto do calor denso que cobre meu corpo. Respiro essas palavras e me dasafogo do mar de obviedades e valores mundanos que me cercam. Pode não parecer, criança, mas és tábua e ilha que me socorre nessa vastidão de oceano. Não posso pedir à vocês, meninas que cresceram, que me salvem pelo resto de suas vidas, pois já fui salva, quando percebi que estar junto foi o que transformou vocês em Pessoas. Fui salva quando entendi que cada colo que não protelei, cada cuidado que não deleguei, cada colher de sopa que eu mesma dei, foi o que fez diferença para as nossas vidas. Deixei de existir para que vocês existissem e isso não fez de mim uma heroína, mas uma mãe. Não, não me dói mais ouvir "eu te amo" de duas bocas, pois construí o que esperava construir quando decidi tê-las dentro de mim. Sei que, um dia, tu também poderás esquecer do quão foi importante para nós essas palavras, mas saibas que não mais dizê-las, não me deixará magoada. Terás aos teus para, neles, encontrar o teu próprio calor e será deles toda essa salvação que já foi minha e que entrego como minha maior dádiva.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mentiras do Bem

Perguntas que, muitas vezes, são respondidas com  pequenas e inofensivas mentiras.
Pergunta: Profissão? Resposta: Formação. (depois de se graduar, fomos para vários lados, menos o escolhido no vestibular).
Pergunta:Toma algum medicamento? Resposta: Nenhum. ( não são considerados anti-depressivos, calmantes, Rivotril, Viagra, etc.,  medicamentos).
Pergunta: Fumante? Resposta: Não. (cigarros roubados em festas não contam).
Pergunta: Aceita mais? Resposta: Não, obrigado. (sim, mas vou parecer um esfomeado).
Pergunta: Estou gordo(a)? Resposta: Não. (não se preocupe se estiver, todo mundo está).
Pergunta: Oi, tudo bem? Resposta: Tudo e você? ( ninguém vai responder que tudo está uma droga, mesmo estando).
Pergunta: Tem algum programa para amanhã? Resposta : Puxa, vou ter que consultar minha agenda (a agenda estará cheia se o convite for uma "bomba").
Pergunta: Vamos sair? Resposta: Não posso. (não quero).
Pergunta: Sabe a Rua Tal? Resposta: Sei, sim. (não, mas longe de mim querer ouvir explicação de rua).
Pergunta: Não é uma graça? Resposta: Sim, é. (não, não é, mas para que decepcionar um amigo?)
Pergunta: Gostou do meu novo corte de cabelo? Resposta: Tá legal. (horrível, mas cresce).

domingo, 1 de julho de 2012

Cheiro

Cheiro pra mim, é quase tudo. Mergulho na minha infância, transito pela minha adolescência, redescubro amizades que pensei amores, volto ao colo que nunca mais tive, apalpo, de olhos fechados, minha coleção de bichinhos de borracha que cheiravam tão bem. Lembro das massinhas coloridas e dos desenhos na TV, de manhã bem cedo, que tinham cheiro de torradas com manteiga derretida. Fico cega e muda quando inspiro minhas saudades. Fico absurdamente feliz em inalar a minha vida na roupa quente saída da máquina de secar, no blusão imenso que dobro com carinho e guardo, no perfume noturno das flores de verão, nos cabelos que beijo, nas peles que conheço, no aroma característico da minha casa, quando entro. Me envolvo em cremes adocicados, ligo insensos o dia inteiro, tenho sachê no meu carro e palitos perfumados espalhados em cada canto que habito. Não vivo sem perfume e me encantam as pessoas perfumadas. Me encontro em um cheirinho de bife passado, lenha na lareira, pão no forno, vinho tinto, chuva forte, café passado, protetor solar. Cada cheiro da minha vida é uma tatuagem esculpida na minha lembrança, é uma mensagem gravada na minha existência e tem o poder de me fazer reviver como se o tempo voltasse para trás. Cada fralda aberta, cada folha de mimiógrafo, cada esmalte, batom, beijo, ar salitrado da praia, livro novo, lápis de colorir, estojo de plástico. Cheiro pra mim, é quase tudo. Só não é tudo, porque olho, toco e ouço cada pequeno aroma que faz meu coração bater mais forte.