sábado, 31 de maio de 2014

Mulher é (quase) Tudo


Mulher sabe muito.
Aguenta quase tudo.
Mulher tem intuição feito faro de leoa.
Não somos tão eficientes com as outras mulheres pelo óbvio motivo, mas com os homens temos o controle de tudo, apesar de quase nunca deixar isso claro.
Sabemos quando não devemos ligar, mesmo ligando, quando somos traídas, mesmo fazendo pose de paisagem, quando somos desejadas ou nem tanto. Sabemos fazer a nossa vontade mesmo pintando o quadro de que foi feita a vontade do outro.
Como mães sentimos a tristeza e decepção dos filhos de longe, mesmo que não perceber faça parte do jogo no intuito de tentar fazê-los amadurecer.
Mulher aguenta as dores mais insuportáveis e sorri tentando ser forte para que o mundo não desabe.
Somos pára raio em noite de tempestade mesmo lutando contra alguns temporais que acontecem dentro da gente.
Não queremos só transar, queremos mesclar um pouco da alma quando entregamos o nosso corpo, como um mergulho profundo e não o banhar-se superficial de não molhar os cabelos.
Queremos amor.
O amor que falta e se esconde em cada ato de histeria, de compulsão, de vitimização, de choro bobo, de depressão.
Mulher que ser pegada no colo de vez em quando, pois o coração que tanto dá abrigo, pede um pouco de trégua e os braços que tanto amparam, querem ser puxados na intenção de um abraço.
Bem apertado.
Porque não nos serve o Mais ou Menos.
E é por isso que sofremos tanto.
Com tantas gorduras imaginárias, feiuras inventadas, incapacidades criadas.
Nos exigem tanto, eu sei, com medo do que seremos no dia que descobrirmos que somos tudo.
Não nascemos para assassinar, estuprar, torturar, explodir-se em prol de algum fanatismo qualquer, se matar em estádios, bater nos mais fracos. 
Com várias exceções horripilantes que chocam mais por ter vindo de alguma mulher.
Nascemos de outra.
E somos vários corações em um só desde o princípio, quando abrigamos outro coração pulsante dentro de nós.
E isso é um universo.
Tão infinito que é difícil de descrever.
E só sente quem nasceu mulher.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Alegria é Tudo


Alegria é tudo.
Sim, tudo, pois quem é alegre espanta as doenças, atraí coisas boas, faz feliz por tabela os amigos, os familiares, os vizinhos.
Convivo com dois seres que considero os mais alegres (genuinamente) que conheço. A minha cadela Frida e a minha faxineira, amiga e mãe há trinta anos, a Laurinha.
A Laurinha é uma mulata miúda que veio trabalhar na casa dos meus pais como empregada quando eu tinha dezessete anos.
Perdeu a mãe aos doze, a irmã (e melhor amiga) aos vinte e poucos. Começou cedo na labuta, teve um aborto espontâneo, não conseguiu dinheiro suficiente para manter os dentes sadios, mas nunca, nunca deixou de sorrir.
Até hoje.
Nas quartas quando ela chega, às oito da manhã (toda arrumada, de cabelos bem cortados, o mesmo corpo firme e atlético, batom na boca, salto alto), a minha casa vira festa. É o dia da semana que mais dou risadas, pois ela sempre tem algo engraçado para contar. Viúva, namora um homem vinte anos mais novo (alegria também é afrodisíaco), sustenta a casa e o filho muito bem, obrigada.
Adora beber e bebe bem, sempre tem cerveja na geladeira esperando por ela. Ama festas e tem um fôlego de criança.
Confesso que eu queria ser como ela. Nenhum motivo extra para sorrir tanto, mas sorrisos extra grandes o tempo inteiro.
Vivo dizendo: Laurinha, me dá a fórmula? A resposta? Mais gargalhadas e a sentença:
"Não ganho nada esquentando a cabeça."
Aliás, são dela muitas das célebres frases que uso como mantra e lema de vida.
Vamos à Frida.
Dos seis, a mais viva. A cauda sempre abanando. A energia que fabrica energia.
Nunca em toda a minha vida pensei que salvar um cãozinho bebê da morte, nas ruas de uma praia qualquer, fosse me recompensar tanto.
A Frida vibra.
Ela aquece o meu coração com as suas estripulias, as palhaçadas, a disposição  para agradar sempre.
Os outros até se ressentem com tamanha disposição para a vida. Azar o deles.
Com o passar dos anos procuro cada vez mais as Laurinhas e as Fridas.
Não consigo tolerar os ranzinzas, pessimistas, raivosos, histéricos, intolerantes, narcisistas, neuróticos.
Aprendi muito com quem vê a vida com os óculos coloridos.
Pois a vida é difícil e fácil.
Para todos.
Mas mais leve para quem vê a alegria que se esconde em tantos cantos difíceis de se achar.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Amanhã


Daqui para frente eu quero ser mais feliz.
Eu penso que tenho esse direito, visto que não tenho mais a metade da minha vida pela frente.
E se tiver, não acredito que seja vivida de forma plena, pois não vou conseguir sair por aí, correndo com meus tênis Nike beirando os noventa.
Por isso, daqui para frente mereço o maior presente que se pode dar à si mesmo: se escutar com carinho.
Já escutei mãe, pai, professor, marido, amigo, filho. 
Deixei de falar incontáveis vezes para não ferir, não assustar, não desrespeitar, não contestar, não polemizar.
E desenvolvi uma capacidade absurda de me fazer muda no intuito de ter paz.
Mas as vozes interiores começam a falar tão alto depois de uma certa idade, que a paz só é mantida se às escutarmos.
Não é questão de ferir, assustar, desrespeitar, contestar, polemizar.
É questão de pegar a alma no colo, vasculhar seu corredores escuros, faxiná-los, abrir as janelas trancadas e deixar entrar o ar.
Para não sufocar.

Para não se tornar uma versão zumbi de si mesmo. Ou uma versão cruel.
Que se judia comendo demais, se medicando demais, bebendo, fumando, se matando nos exercícios, no trabalho, na fuga que não encontra trégua, mas que azeda a nossa versão leve que existiu em alguma lugar, há poucos ou muitos anos atrás.
Eu ainda não sei como vou cavar mais em busca de algo que julgo ter.
Pode ser que eu nem precise.
Pode ser que apenas no ato de me escutar, eu perceba que posso ser mais feliz apenas vivendo mais da mesma felicidade que tenho.
Mas para descobrir preciso parar.
Acariciar o que sou.
E escutar.
E, quem sabe, mudar.

Icem as Velas


É perigosa a força dos mares.
As mudanças climáticas.
Mas a falta de aventura e de mudanças pode fazer uma vida ser bonita de se olhar, mas não de viver.
Como um navegar sem respingos de espuma, sem molhar o corpo, sem sobressaltos e sem movimento.
Quem se protege demais, não afunda.
Mas não sente o vento no rosto.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Hoje é sexta e daí?


A primeira vez que botei os meu pés em um salão de beleza eu tinha 18 anos.
Fui fazer um permanente para acabar com a chatice de um cabelo liso escorrido.
O nome de verdade dela eu soube, mas não lembro porque era algo chato como Maria de Fátima. Difícil de considerar um nome próprio, mas apenas uma prova de fé da mãe para com a santa.
O nome que ela usava era Pereca, esquisito, mas marcante e nunca soube o porquê desse apelido inusitado. Mas soube um monte de coisas dela antes dela ir embora em seus tenros quarenta e poucos anos, vítima de um aneurisma.
Ela era simplesmente linda. Olhos azuis que perfuravam quem os olhasse, tamanha transparência e luminosidade, olhos de gato. Alta, esguia, cabelos que caíam em cachos perfeitos, dourados, sedosos e maleáveis. Eu queria ser como ela, depois dos quinze anos que nos separavam.
Até os meus trinta e dois anos ouvi e falei coisas que só se fala para quem mexe nos nossos cabelos.
Ela era mãe de uma menina e de um menino. O menino era vítima da Talidomida e não tinha metade do braço direito. Lindo menino triste.
Ela, inconscientemente, se culpava.
O marido era também lindo, jovem (mais do que ela) e muito infiel.
Ela mexia na minha cabeça ao som de Enia, gostava de brigadeiro no lanche da tarde, fumava e me dizia: 
"Tem que existir alguma coisa, além dessa merda toda."
E era essa Alguma Coisa que fazia ela sorrir para suportar o castigo de ver o filho escondendo o braço no moletom, o marido sumindo na madrugada.
Sempre temos Alguma Coisa.
Porque desde o momento em que nascemos, somos solitários em todas as nossas angústias.
Estamos em uma faculdade e cada prova ou teste responderemos com a nossa caneta em punho, sentados na nossa classe, interpretando questões dificílimas para nós, fáceis para os outros, iguais, mas recebidas de forma diferente, de acordo com o jeito que dormimos, o nervosismo, a pressão, a história de cada um. E provas horríveis. Aquelas que nos fazem perder o ano. Os anos. Quase uma vida.
Então, temos a fé. 
O incenso, a yôga, também a fé.
Tantos, o conforto de se ver com o conforto de bens materiais, de status.
Alguns, matando galinhas, fazendo sacrifícios em prol de sacrificar à si mesmo, que é bem mais difícil.
E tem os que tem as promessas de sextas feiras regadas à alguma coisa que não se tem, mas se agarra feito tábua em enchente.
Mas somos sozinhos no nosso sofrimento e nas nossas tarefas e provas.
Acredito que exista Alguma Coisa Além Dessa Merda Toda, mas não vamos descobrir aqui. Nem agora.
Para mim, que escolheu um professor que só fala quando estou pronta à escutar, sei que me formar não será nada fácil, mas sei que na dureza das questões difíceis, existe a intenção amorosa de ensinar.
Tanto que a hora do recreio é cheia de piados, de flores, de bichos, de abraços e beijos melados de filhos, de sol quente na pele, de suor, de vento, de retratos pintados em cada pôr do sol, em cada mar rebelde e céu estrelado.
De reconhecimento.
Para quem espera que tudo acabe depois de jogar o chapéu para o alto, boa sorte.
Eu pretendo encontrar a Pereca, algum dia.
E até vejo os olhos de gato me olhando e a pergunta se formando nos lábios imensos:
"Tu sabia que existia Alguma Coisa Além Daquela Merda Toda, né? Pois se prepara que Ele te reservou uma vaga de estagiária."
Vou rir, eu acho. E bufar um pouco.
E perguntar:
"Mas no Sábado tem folga? Se tiver, na sexta vou me esbaldar."

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Vende-se Honestidade


Eu e uma amiga andamos muito preocupadas com a nossa vida profissional. 
Almoçamos toda a semana e a conversa desliza, tocando em cada nervo exposto que é a fragilidade humana, a existência com suas alegrias e complicações. Muitas vezes regada à vinho (nesses dias os garçons nos convidam para tomar um café, por favor, pois já passam das três horas, se não for incômodo), essa conversa dilapida um pouco mais a minha alma e a dela e saímos prontas para enfrentar a próxima caça às bruxas da nossa rotina.
Mas, como disse no princípio, andamos preocupadas com a nossa vida profissional.
E hoje vislumbramos uma ponta solta, aquela, a principal, que nos impede de avançar.
A falta de malandragem.
Porque nesse país, quem não é malandro não se cria, só cresce o pouco que pode para não morrer à míngua.
Se não empurrar um ou outro irmão para fora da área onde as tetas jorram leite, fica de fora, chupando o dedo da honestidade.
E eu não consigo ser malandra. Não sei me vender, tampouco jogar as minhas qualidades ao vento para, feito confete colorido, enebriar os que gostam de festa e de cores.
Aliás, lembrei de um famoso proprietário de academia de ginástica, lá nos anos oitenta e tantos, que dizia para quem quisesse ouvir: "Olha lá como ela está velha e acabada, mas vou jogar um confete, que isso vende." E vendia muito, tanto que ficou famoso e com bastante dinheiro.
Também lembrei de um amigo que me disse fazer parte pisar em um ou outro para poder subir um degrau ou dois na escala profissional.
Vou ter que nascer de novo, então.
Sou britânica nos horários, chiita na honestidade, neurótica com deveres. Quadrada, no melhor estilo germânico.
Não gosto de pensar que nasci para ser trouxa, mas abomino pensar que nasci para ser malandra.
Acredito de todo o coração que o caráter não pode ser medido em apenas uma conduta, mas em todas.
Sou excelente marido, pai, cidadão, vizinho, amigo mas puxo um tapete que outro no trabalho.
Roubo a ideia, o mérito, o troco de alguém, mas ora vejam, é para dar o melhor para a minha família.
Não.
Não vivo plenamente sem um órgão do corpo e não viverei plenamente com uma única atitude que fuja do que defino como justa.
Eu e uma amiga andamos preocupadas com a nossa vida profissional.
Mas conseguimos rir muito (não dos outros), dormimos bem e acreditamos que tudo vai melhorar.
Porque acreditar que a vida possa ser como deveria, nos faz menos ricas, mas mais leves e felizes.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Se


Se tivéssemos a disposição física de um Dálmata, a honestidade de um Pastor Alemão, a fidelidade de um Vira Latas, a alegria de viver de um Golden Retriever e a simplicidade no prazer de existir de todos eles, seríamos realmente uma espécie superior.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

É preciso abrir as cortinas


Mesmo sendo um pouco infantil ( o bem e o mal) nas definições do que me cerca, jamais me fecho às mudanças e sempre fico aberta à uma segunda, terceira, quarta opinião em tudo, pois sei que dependendo do ângulo, um cenário pode nos proporcionar diferentes visões.
Não foi diferente com o filme Shame.
Estado de espírito, questões externas, humor, hormônios,  podem influenciar o nosso julgamento em absolutamente tudo com que entramos em contato.
Assisti ao filme pela primeira vez em uma época onde a minha tolerância ao ousado estava baixa, portanto o considerei vulgar e sem sentido. Fechei as cortinas da minha sala com as cenas tórridas, pois não conseguia captar o principal: a essência psicológica da trama.
E a trama profundamente psicológica me faz entrar em outro assunto: tudo o que fazemos com o próprio corpo para aliviar a pressão angustiante da mente.
Como cada compra, transa, comida, bebida, jogo, exercício, podem pular facilmente do patamar da normalidade e se tornar uma doença obsessiva e triste.
O protagonista era viciado em sexo. Um sexo vazio, egoísta, sem entrega.
Quando havia paixão ele não funcionava.
E precisava de mais para preencher esse vazio difícil de reconhecer. O do espírito.
A irmã, carente, negligenciada pelo mundo, tentava utilizar as mesmas armas do irmão para conseguir respirar em um presente cheio de um passado doente e devedor de normalidade. Mas ao contrário do macho predador, ela era a fêmea fácil de ser abatida.
E os dois odiavam esse elo que os unia e comprovava toda a fragilidade de ambos, travestida em uma fúria louca por vida.
Terminei o filme em lágrimas.
Porque percebi que somos ferozes em nossos julgamentos rápidos.
Desaconselhei o filme para diversas pessoas e depois de o assistir pela segunda vez, ele me fez uma pessoa melhor ao entender que comportamentos duvidosos são, muitas vezes, fraquezas.
E que é preciso ver até o final, rever, abrir o coração, as cortinas.
A mente.
Não devemos sentir vergonha - Shame?- ao ver cenas cruas, pessoas despidas de suas armaduras.
Ao nos olharmos no espelho e vermos o que se esconde atrás de todo gesto que nos machuca, mesmo disfarçado de prazer.
Só assim, poderemos entender o enredo da nossa própria vida.
Com as cortinas sempre escancaradas.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Selfie


Um dos grandes problemas do mundo é que as pessoas pensam que tudo que se relaciona à elas mesmas é muito mais interessante do que as motivações das outras pessoas.
É um bando de zumbis egocêntricos que perde o grande prazer que proporciona a descoberta do outro.