sábado, 29 de junho de 2013

Sexo e Alma


Ela se esconde atrás de um monte de coisas.
Roupas, carne, ossos, músculos, medos, traumas.
Muitas vezes, fica tão esquecida pelo turbilhão da vida que, ao contrário do que deveria, se submete aos maus tratos do Mundo, obedecendo às suas ordens quase sempre mesquinhas, superficiais e baratas.
A alma.
Tão desprezada hoje em dia, em prol de quem está no comando: o cérebro. Esse cara tão corrompível quanto corrupto, que acredita que o prazer sempre vem de fora e, na maioria das vezes, é proibido e por ser "errado", inatingível.
É ele quem coloca as metas acima do nível tolerável e por isso faz da vida uma batalha, quando por vontade da alma seria uma sucessão de dias, com a imperfeição que faz o perfeito ter significado.
E a inversão de tantos valores consegue fazer do sexo uma arma, uma meta, uma moeda, um deus - o colocando em um patamar tão carnal quanto simplista: méritos da humanidade avançada.
A entrega do corpo nada é sem a entrega da alma.
É como comprar uma roupa e não ter aonde vesti-la.
O sexo não cria afetos, os sela, fundindo sentimentos. É como colocar o espírito do outro em repouso, depois de tê-lo tido nos braços, para que descanse dos fardos pesados dos sentimentos profundos e se entregue à leveza sublime dos prazeres da pele.
Porém, essa faxina que purifica e expurga faz parte de um pacote. Muito mais completo do que uma noite romântica. 
Podemos  nos encontrar em alguém através das palavras, dos pensamentos, das idéias e tudo isso ser o amor que nos une. Assim é com nossos filhos, pais, amigos.
Nem sempre a consumação de um amor é feita através da troca de fluídos, mas quando a necessidade de estar fundida ao corpo de quem amamos é inevitável, nasce uma história.
Uma história que será vivida com a certeza de que algo sólido foi construído à dois.
Pois o sexo com alma não deixa espaço para ninguém mais e será pleno até que a alma careça de mais.
A mente pode ser inquieta, mas um espírito alimentado não tenta navegar em mares longínquos.
E quando a vida à dois perder a cor, pode ser a hora de seguir outros caminhos.
E através do coração criar uma nova história.



sexta-feira, 28 de junho de 2013

Própria Pele


Violência, nunca. Porém, o limite saudável de ser pacífico está diretamente ligado à ameaça iminente do seu predador. Então, passa a ser uma questão de amor próprio.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Brinquedo de Adulto


Que nas minhas batalhas, as minhãs mãos possam ajudar o justo a vencer.
Que nelas, eu não perca a ingenuidade dos que acreditam que as arestas podem ser aparadas, mesmo quando os sonhos não são derrubados.
Que eu saiba que mesmo difíceis, os momentos irão passar e eu poderei voltar à mim mesma e à tudo que faz eu acreditar no futuro.
Que eu tenha a mesma perseverança das crianças que caem, gargalham e se precipitam à continuação dos seus passos.
Pois mesmo crescendo e passando pelas mudanças mais drásticas da existência, elas ainda se refugiam na fé  de que se tornar o amanhã pode ser assustador, mas é tudo o que se quer quando a vida jorra dentro de si.

sábado, 22 de junho de 2013

Dona de nada




Eu não quero ser dona de nada. 
Quero é que as coisas me vistam, feito roupa, e me sirvam para agasalhar a nudez da minha existência.
Porque vão existir dias em que a alegria cai como luva, mas noutros a lucidez da melancolia vem, com suas tramas elaboradas, encaixar no meu corpo no tamanho certo para ser usada.
Ser dona pesa a existência, nesse caminho onde o usufruir é muito mais iportante do que tomar para si.
Quero mais é poder pedir emprestado toda essa complexidade de ondas que quebram no oceano infinito da minha mente.
Quero ter o direito de ser louca, criança, burra, ingênua, lógica, inteligente para depois tomar a minha essência de volta com esse tudo e mais um pouco que me faz aguentar o peso do  corpo nas próprias pernas.
Porque ser dona é um peso irrelevante em um Mundo cheio de donos e com pouca felicidade.
Não preciso ser proprietária das árvores para usufruir do prazer que elas me proporcionam. 
Tampouco quero me apropriar de pessoas  com imposições  mesquinhas que as tornam presas à nós, mas jamais nossas.
Minha moeda é outra e vale mais do que qualquer metal precioso, pois o que adquiro vira meu por direito.
Não um direito que nasceu de um preço.
Nada que eu possa consumir por determinado tempo. 
Mas algo que eu levarei, para sempre, impresso na alma.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Mágica


O temporal vem, mas sei que passa.
Então, perfumo a minha casa.
Com fumaça perfumada.
Pulverizo alecrim, feito orvalho, em cada almofada.
Acarinho meu corpo com creme adocicado, colho flores e as coloco na mesa da sala.
Minhas mãos viram varinhas mágicas, retirando alegria imensa de coisas pequeninas.
Transformando o meu dia em flores, em cheiros.
Fabricando carinho em doces pontilhados de confeitos coloridos.
Arrumando as vidas dos porta-retratos, limpando com afeto cada sorriso por trás do vidro.
Agora estou pronta pro sol.
Que sei.
Só estava escondido.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Mãos


Não existe terapeuta, amor, amigos, guru, médico que nos salve enquanto não estivermos prontos. Mesmo precisando de outras, são as nossas mãos que devem estar finalmente fortes para nos erguer dos abismos.

Ponte


Então, nesse Mundo onde tudo é finito, o que realmente importa é o amor. O de ontem, o de hoje e o de amanhã. É ele que será ponte para o caminho que nos aguarda depois que a finitude nos encontrar por aqui.

domingo, 9 de junho de 2013

Feito Cometa


A vida passa tão rápido.
As cicatrizes serão mais importantes do que as dores.
As lembranças mais vívidas do que os momentos.
E a perenidade será obra de arte. 
Feita por quem tem paciência para eternizar o belo, o diferente, o único.
Admirada por quem tem consciência de que tudo que é muito fácil, fugaz e indolente na sua construção, é alimento, mas não refeição.

domingo, 2 de junho de 2013

Matemática


Eu tinha estado tão presa à conceitos.
De que a felicidade é magra, lisa, jovem, medida com números, com padrões estipulados por quem quase sempre não é feliz.
A felicidade foge à regra, quebra tabus, segue caminhos inversos aos discursos cheios de efeitos especiais.
A felicidade não é propaganda de banco, tampouco de carro ou de cartão de crédito, mas algo bem menos pensado do que tudo isso feito para agarrar à unha quem pensa que ser feliz é tão reto e fácil.
Podemos ter um monte de dinheiro, beleza, status e, no final, aquele esperado resultado de que dois mais dois resulta em quatro se mostra inválido em um quesito bem mais profundo do que arestas, somas e resultados.
Ser feliz não é matemática, é estado. E não depende de nada que a física conheça, mas daquele monte de coisas que nos fazem mais sedentos de vida, mesmo sendo estranho e engraçado para o outro.
Um cheiro, um cenário, uma sensação que acorda, que cutuca o corpo e faz ele querer fazer o que mais sabe - viver nessa existência breve, triste, alegre, feia, linda. Porém unica.
A felicidade vem em tabletes, em comprimidos, em doses pequenas e grandes e nos faz, feito remédio, suportar essa incompreensível, dolorosa e bonita, tarefa de passar por este Mundo.
Ela não pode ser comparada, medida, censurada, padronizada.
Ela é costurada em cada pessoa com a medida certa para vestir a sua alma.
Medida que não mede.
Protege, aquece.
Restaura.