Sou um nada abaixo das estrelas, uma partícula chorona e insatisfeita, uma alma pequena, imatura e frágil tentando ganhar o colo que lhe falta nesse mundo que nasceu imperfeito, nesta escola de muros pichados e pilares abalados.
Somos todos.
Se soubéssemos...
Mas pouco sabemos.
Apesar de nos acharmos os reis, as autoridades nos mistérios da vida.
Essas autoridades, sim, essas mesmas, que blindam seus carros e se armam na tentativa de conter a maldade, de proteger as vidas quando nada podemos proteger exceto a capacidade de amar.
Abaixo a minha cabeça, pois sei o quão pueril e pequena devo parecer ao exigir tantos caprichos e criar tantas necessidades desnecessárias para satisfazer a pequenez da minha alma que aqui, nesse planeta, ainda é criança.
Então me cerco de certezas terroristas e obsessivas de que é preciso obedecer à Deus, ao invés de amá-lo, de que é preciso ser assim, assado, frente e verso em concepções humanas da existência plena.
Julgo os outros, escravizo os animais, os mato, os como, os crio, os prendo e os enfeito feito brinquedos.
Me apodero de pessoas, as torno minhas e as entendo conforme as minhas necessidades e caprichos.
Faço dos meus filhos minhas cópias, na ânsia de perpetuar o que acho correto.
E aprendo.
Até sorrio com a insignificância do que considero significante nessa vida que passa rápido, mas que ensina muito.
Até ensina que ninguém nasce para ser mal.
Nascemos para equilibrar a maldade e a bondade que é inerente à existência.
E para aprender que nada, nada mesmo, nos fará deixar de sofrer.
Pois em cada prazer que sentimos existe uma dor velada.
Antes, durante ou depois.
E quando se aceita a dor, a perda, a incapacidade, a ignorância e todas as mazelas de se ser humano, se compreende o quanto sublime é o amor à tudo que nos faz seguir adiante.
Mesmo que seja pequeno, pueril, bobo e fútil.
Pois sendo pequenos nessa breve insignificância, seremos ainda parte dessa vivência.
Essa mesma, que faz curvar os ombros.
Essa que é ainda muito, muito pequena.
Essa que anda talhando a nossa alma.
Para viver o depois.
Mesmo que esse depois nos ensine tudo de novo.
Ou nos acolha no seu real significado.