terça-feira, 12 de julho de 2016

Tourada


Ele brincava muito.
Com os cabelos dela, com a curva suave das suas coxas, com o nariz franzido de brabeza.
Brincava com as alegrias e a fazia se sentir criança cuidada.
No inicio.
Passou a brincar com certos medos e inseguranças que ela carregava pesados no peito.
Com as dores dela.

Com o cansaço que julgava bobo.
Brincava falando de outras mulheres que o bajulavam, de outras mulheres que tinham um pouco mais do que ela.
De conquistas que não eram dela, de passos errados ou não dados.
E as brincadeiras ficaram engraçadas somente para ele como uma tourada é divertida para o touro.
E no perfurar de cada espada, no sorriso e na gargalhada sádica, ela sangrava mais um pouco.
Quando ela pensava estar acostumada com as feridas, correu.
Quando ele pensava que os ferimentos eram parte da diversão de ambos, se surpreendeu.
E na arena vazia, ferido, a culpou.


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